"Dois anos antes, o Benfica defrontara o Flamengo (o clube que está na moda) no Maracanã e perdera por 0-1. Desta vez foi superior, mas não foi além do empate (1-1), com muitas queixas da arbitragem que anulou um golo a Azevedo e perdoou dois penáltis aos brasileiros. A desforra estava marcada para 7 dias mais tarde
Julho. Era o Rio de Janeiro e chovia. O Benfica iria defrontar o Flamengo, no Maracanã, e os promotores dessa longa viagem da águia ao Brasil, no ano de 1957, estavam preocupados. A chuva poderia tirar público a um encontro vivido com antecipado entusiasmo.
O Flamengo, hoje em dia, está na moda. Por causa de um antijogo treinador do Benfica e de um antigo jogador do Benfica, Jorge Jesus e Gabigol.
Fora uma tarde social, digamos assim. A comitiva portuguesa apresentara cumprimentos ao embaixador de Portugal, António Faria, fora ao Gabinete Português de Leitura fazer uma oferta valiosíssima da obra completa de Gil Vicente, supinamente encadernada. Depois, o treino. A conclusão de que Zezinho e José Águas não iriam poder alinhar.
Não era a primeira vez que Flamengo e Benfica se encontravam, no Rio. Dois anos antes, os encarnados tinham viajado até à Cidade Maravilhosa e tinham perdido com os rubro-negros por 0-1.
Seria diferente, desta vez.
A superioridade encarnada
O Benfica acabara de perder a final da Taça da Latina, em Chamartín, face ao Real Madrid.
Perdera, igualmente, em Lisboa, um particular frente ao Vasco da Gama.
Estaria preparado para enfrentar o Maracanã e a grande equipa do Flamengo? A resposta era: estava!
E, não foi apenas a crença, a vontade posta em campo. Não se tratou de uma disputa entre os artistas brasileiros, ufanos das suas qualidades técnicas, virtuosos como poucos na hora de dominar a bola, e portuguesinhos esforçados, humildes e trabalhadores. O Benfica equilibrou o jogo em todos os capítulos. E foi mesmo superior em termos tácticos e de funcionamento do conjunto.
Estiveram mais de 60000 pessoas no Estádio Mário Filho, o Maracanã.
Tal como sucedera na visita anterior, o Benfica sofreu um golo logo no início da contenda. Logos aos 45 segundos.
Para surpresa geral, Águas estava em campo. Mas adoentado, engripado. Sacrificou-se. Não aguentou. Teve de sair. Só que, antes do intervalo, num golpe de cabeça ao seu estilo, bateu o guarda-redes Fernando e fez o golo do empate.
Ficaria o resultado até final.
Há que dizer que o Flamengo foi mais acutilante nesse período inicial do jogo. O golo deu asas aos seus avançados, Costa Pereira foi obrigado a defesas complicadas. Mas o edifício encarnado não abanou e nunca esteve em risco de ruir. Coluna e Cavém foram enormes.
Do outro lado, Zagalo e Duca tiveram remates impressionantes. Cada um teve direito a ver pontapés seus serem repelidos pelos postes.
A frieza dos portugueses, a maneira como começaram a trocar a bola em triangulações sempre em movimento, subindo pelo meio-terreno brasileiro, entusiasmaram os muitos compatriotas que se espalhavam pelas bancadas do maior estádio do mundo. Pavão, Epson e Dequinha não estiveram pelos ajustes e começaram a distribuir patadas como se caçassem ratazanas. Preocupado com a forma como Coluna estava disposto a responder na mesma moeda, Otto Glória adiantou-se para avançado-centro. Azevedo passou a jogar no meio.
À medida que o encontro se encaminhava para o fim, o Benfica era dono e senhor dos acontecimentos. Faltam poucos minutos. Azevedo recebe uma bola à entrada da área e faz o 1-2. O árbitro fica na dúvida, mas anula o lance por fora-de-jogo. Os encarnados estão atónitos. Como??? Azevedo estava em posição perfeitamente legal, reclamam. Debalde. O golo não vale. A vitória não será obtida. É preciso conter a fúria. Dois movimentos no segundo tempo mereceram protestos veementes, dois penáltis sonegados aos lisboetas. Já se sabe que estes jogos são assim. E as arbitragens sempre caseiras.
Há uma desforra marcada para o dia 13
A imprensa do Rio rejubila. Entretanto, o jogo de dia 11, em São Paulo, frente ao Palmeiras, é anulado por haver um Brasil-Argentina no dia 10. Os dirigentes encarnados ficam com comichões no sangue.
A águia ficará a pairar no Rio uma semana sem nada para fazer.
Esperando apenas... Esperando novamente pelo Flamengo e por nova oportunidade de vencer no Maracanã... Ninguém quererá perder esses momento!"
Afonso de Melo, in O Benfica
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