"Sem espírito desportivo, não há desporto. O respeito pelo árbitro, pelos adversários ou parceiros são as regras elementares da socialização. Num “espírito positivo”, coloca-se a questão do espírito desportivo como uma questão da civilização, uma oportunidade, por forma a que a ética individual e a vontade de continuar humanos e cidadãos para não sermos manchados.
As regras do jogo todos conhecem, mas o espírito do jogo, em particular, o respeito dos outros e si mesmo, é preciso ser impregnado e não ser necessário abrir a carta desportiva para saber se determinada coisa é boa ou má. O senso comum considera frequentemente como postulado que o espírito de equipa se adquire por uma longa prática dos desportos colectivos, uma forma excelente de introdução à vida em sociedade e “as regras do jogo desportivo intervêm para colocar o controle da necessidade da violência nas mãos dos gestores, treinadores ou outros representantes da ortodoxia”, escreve Georges Magnane, em Sociologie du sport (1964, p. 33). São eles os “directores da consciência popular”, a que Howard Becker, em Outsiders: études de sociologie de la déviance (1985), chama de “empreendedores da moral”.
Assim, as regras do desporto são a principal atracção para as actividades aprovadas, “lícitas”, conscientemente sociais, e, num sentido mais amplo, dóceis. O desporto não é um espectáculo de desigualdade, mas um espectáculo de igualdade, razão pela qual o maior perigo que ameaça o desporto espectáculo é a grande dominação de um jogador, de um atleta ou de uma equipa. É preciso substituir o adversário incompetente das finalidades competitivas, que são os recordes. Não chega apenas ganhar. É preciso ser o mais rápido de todos os tempos, entrar na história. O espírito do desporto não é apenas opor os desiguais, das equipas ou dos atletas de nível heterogéneo. O critério que permite julgar o respeito do espírito do jogo é a reversibilidade dos resultados. O espírito do jogo é opor os valores sensivelmente iguais."
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