"Corchia foi sempre tido como o futuro da selecção francesa, mas acabou ultrapassado. Em Sevilha conheceu as lesões.
Clairefontaine é uma escola especial. Uma das doze academias de elite existentes em França, tem sido uma das, senão mesmo a principal academia de formação em França fora dos principais clubes, funcionando como um dos campos de recrutamento mais importante dos principais clubes franceses desde que foi fundada em 1988. Só os melhores jogadores da região da Ilha de França têm lugar na Academia de Clairefontaine e Sébastian Corchia, lateral francês de 27 anos que poderá ser o novo reforço do Benfica, atendendo aos fortes rumores que assaltam a imprensa no dia de hoje, foi um deles.
Nicolas Anelka, Louis Saha, William Gallas, Hatem Ben Arfa, Abou Diaby, Sébastien Bassong ou mais recentemente Mehdi Benatia, Blaise Matuidi, Kylian Mbappé ou Olivier Giroud, nunca esquecendo um dos maiores nomes da história do futebol francês: Thierry Henry. Todos estes nomes passaram por Clairefontaine antes de serem “pescados” por alguns dos maiores clubes do futebol francês e Sébastian Corchia não foi excepção. Outrora uma das grandes promessas do futebol gaulês, talvez Corchia não tenha explodido para o nível que se esperava quando ao serviço do FC Sóchaux - já antes ainda no Le Mans UC, mas principalmente ao serviço do Sochaux - se afirmou como um dos laterais de maior potencial do futebol europeu, de grande competência defensiva ao mesmo tempo que oferecia uma grande profundidade ao seu corredor. Golos e assistências foram quase sempre uma constante ao longo da carreira.
Depois de uma carreira totalmente construída em França, a primeira experiência de Corchia fora do seu país apenas chegou na temporada passada quando o Sevilha FC pagou cerca de cinco milhões de Euros para o retirar de Lille, clube que representara nas três temporadas anteriores após a queda do Sochaux à segunda divisão francesa no final da época 2013/14. Em Sevilha, Corchia teve vida difícil. Numa época atípica do clube andaluz marcada pela instabilidade e pela passagem de três treinadores pelo clube, as leões que assolaram a temporada do lateral francês não ajudaram.
Ainda sob o comando técnico de Eduardo Berizzo, Sébastian Corchia dividiu a posição de lateral direito com Gabriel Mercado durante a fase inicial da temporada. Uma lesão do lateral argentino à décima jornada permitiu que Corchia assumisse a titularidade de forma consecutiva pela primeira vez na época frente a Leganés, FC Barcelona e Celta, sem ter conseguido terminar os encontros frente a Leganés e Celta por opção técnica. O regresso de mercado à 13ª jornada perante Villarreal, porém, voltou a relegar Corchia para o banco e só mesmo na Taça do Rei o lateral espanhol foi opção inesquestionável fazendo os noventa minutos de todos os jogos da equipa do Sevilha na competição até à primeira mão dos quartos de final da prova perante o Atlético Madrid a 17 de Janeiro de 2018.
O encontro frente ao Espanyol, três dias depois, beneficiando da lesão de Kjaer para regressar à titularidade no Sevilha já com Montella no comando técnico e consequente passagem de Mercado para a zona central da defesa, parecia abrir a porta da titularidade para Corchia, já perfeitamente integrado no clube, porém, foi também o último encontro da temporada para o lateral gaulês. Uma lesão no reto femoral da coxa direita durante um treino, que deveria ter deixado Corchia de fora das contas do clube Andaluz somente “para os próximos jogos”, acabou por terminar com a temporada do lateral que só esta época voltou aos relvados. Logo numa altura em que pela primeira vez Corchia estava a conseguir ter alguma continuidade na equipa do Sevilha.
O mistério em torno da lesão de Corchia adensou-se e só meses mais tarde, já perto do final da temporada, se conheceu a verdadeira extensão da mesma. Afinal, Corchia havia feito uma rutura grave do tendão anterior, bem por cima do quadrícep femoral, uma zona cujo tratamento e recuperação é aparentemente complicada. Lesão que também Daniel Carriço sofreu e perante a qual acabou por estar mais de seis meses fora dos relvados. Corchia não quis ser operado à mesma, tendo acabado por debelar a lesão com sessões de fisioterapia, ginásio e trabalho em piscina.
Lesões que, até então, nunca haviam prejudicado a carreira de um jogador que fora em tempos uma das grandes promessas do futebol francês e um fenómeno dos jogos virtuais. Na temporada imediatamente anterior à chegada a Sevilha, ao serviço do Lille OSC, Corchia não falhou praticamente um minuto em toda a liga francesa. Falhou dois. À 17ª jornada quando acabou substituído aos 88 minutos, apenas não tendo jogado em encontros da Taça e da Taça da Liga Francesa. Uma continuidade que não encontrou em Espanha, mas que sempre fizera parte da carreira em França onde foi sempre um indiscutível por onde passou desde que apareceu ao mais alto nível na liga francesa na temporada 2009/10 ao serviço do Le Mans, então, ainda com 18 anos.
Na verdade, a temporada passada foi mesmo a primeira desde a estreia em 2008/09 que Corchia não fez pelo menos 34 jogos na temporada, até então o seu mínimo de época quando na temporada de estreia pelo Sochaux participou em 31 dos 38 jogos do campeonato francês, fez um jogo na Taça e dois na Europa pela equipa gaulesa. Antes de chegar ao Sevilha, Corchia tinha mesmo passado três temporadas em Lille realizando mais de 40 jogos em cada uma delas, facto que atesta a fiabilidade física do lateral gaulês.
A chegada a Lille que não foi igualmente fácil para Corchia, desta vez, devido a questões burocráticas e financeiras às quais foi alheio. Em Janeiro de 2014 o clube anunciou a sua contratação, porém, a inscrição acabou por ser bloqueada pela federação francesa que devido aos problemas financeiros atravessados pelo Lille e após auditorias feitas às contas do clube deliberou que a folha salarial dos Dogues era demasiado elevada e por isso não podia contratar novos jogadores. Corchia regressou então a Sochaux não conseguindo evitar a despromoção do clube, tendo acabado por se juntar ao Lille OSC no verão seguinte.
Nascido em França, nos arredores de Paris, mas também detentor de passaporte italiano - foi ligado à Juventus e ao Inter desde muito cedo -, foi aos 12 anos que Corchia integrou a Academia de Clairefontaine onde se manteve entre 2003 e 2006, altura em que rumou a Camp des Loges, a conhecida academia do PSG, clube pelo qual acabou por nunca jogar a nível sénior mas que há dois anos, segundo a imprensa, pareceu verdadeiramente interessado na contratação de Corchia. A estreia a nível sénior aconteceu na temporada 2008/09 e foi um português que o tornou indiscutível na equipa de Le Mans. Em 2009/10 era, afinal, Paulo Duarte, o treinador do emblema gaulês.
Foi já ao serviço do Lille que Corchia finalmente chegou à selecção francesa. Em Agosto de 2016 foi convocado para os jogos da selecção francesa perante a Itália e a Bielorrússia, este, a contar para a fase de qualificação para o Mundial 2018, mas só meses mais tarde acabou por realmente se estrear pela selecção gaulesa quando substituiu Djibril Sidibé num jogo amigável perante a Costa do Marfim que terminou empatado a zero. Corchia jogou 20 minutos nesses jogo, naquele que foi o culminar de todo um percurso a nível das selecções francesas. Entre os escalões Sub 17, Sub 18, Sub 19 e Sub 21, Corchia foi internacional francês em 50 ocasiões tendo estado presente no Europeu Sub-19 de 2009, bem como no Europeu Sub-21 disputado em 2011.
Durante anos, Sébastian Corchia foi destacado como o futuro lateral direito da selecção francesa, algo que até hoje ainda não se confirmou. A passagem por Sevilha acabou por ser também um passo atrás na carreira, encontrando-se com as lesões que até então nunca o haviam atormentado. A afirmação de Jesús Navas na ala direita bem como a chegada de Aleix Vidal retiraram espaço ao francês no 3-5-2 de Pablo Machín e parece ser ao serviço do Benfica que Corchia se irá tentar reencontrar com todo o seu potencial."
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