"A 28 de Novembro de 1937, Cândido de Oliveira era o seleccionador nacional e Portugal foi jogar a Vigo contra a Espanha que era apenas a franquista na Espanha em Guerra Civil. Em torno da tribuna foram colocados tarjas gigantes com imagens de Franco e Salazar - e Portugal ganhou por 2-1. A 30 de Janeiro foi a vez da Espanha (a franquista) jogar nas Salésias. Golo de Pinga deu novo vitória - mas o mais marcante do desafio foi o que sucedeu antes com Mariano Amaro, Artur Quaresma e José Simões. Eram os três treinados no Belenenses também por Cândido de Oliveira - e os três furtaram-se à saudação fascista do braço erguido que ameaçava ritualizar-se por todos os estádios (e que Cândido repudiava). Quaresma deixou-se ficar em sentido, Simões e Amaro levantaram os braços, em vez de abrirem a mão em palma, cerraram os punhos, dando ao gesto sentido revolucionário - e, depois, a Censura obrigou a Stadium publicar a fotografia com uns dedos pintados, espetados, em lugar das mãos fechadas.
Almiro Maia Loureiro o comandante da polícia que era secretário-geral da FPF abeirou-se, um pânico mal disfarçado, da tribuna onde o ministro Carneiro Pacheco parecia enfarpado, jurando-lhe que tinha os jogadores desolados a desculparem-se da «criancice» - que melhor era esquecer. De nada serviu. Chamados a investigação à PVDE, Amaro e Simões ficaram presos 15 dias, Quaresma safou-se com «desculpa habilidosa» - e contou:
- Fui lá visitá-los, avisaram-me: que não aparecesse mais porque os polícias não estavam nada convencidos da minha inocência e diziam: 'esse Quaresmita também devia cá estar'. Acabaram por libertá-los, ficaram a devê-lo à sua condição de jogadores internacionais. E do Belenenses. Sim, porque o Belenenses tinha então grande influentes.
Ao lembrar-me da história, pensei: ser preso assim ou ser chamado à investigação assim é honra e currículo. E que o que no futebol se tem passado ultimamente não: é cadastro e é vergonha mesmo que não passe do que ja´se sabe..."
António Simões, in A Bola
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