"Diz-se que a vida das pessoas é muito melhor no Facebook do que fora dele. Se assim for, é precisamente o contrário do futebol.
O futebol do Facebook é mil vezes pior do que o futebol a sério. Não se safa nem com filtro sépia. Ninguém que goste do futebol a sério dá um gosto ao futebol do Facebook. Quanto muito, escolhe aquele bonequinho com a boca aberta. Seja de espanto ou de horror.
Se as pessoas, muitas vezes, maquilham no Facebook os problemas da vida lá fora, o futebol cá de fora deveria maquilhar no terreno os problemas do futebol do Facebook. Mas nem sempre consegue.
Ainda recentemente passaram-se horas em horário nobre a discutir o que vinha numa página desta rede social. E o tudo inclui a mensagem, a forma, os critérios que podem levar a mesma a excluí-la, o potencial interesse dos autores e acabando no autor em si, que, como se sabe, nunca saiu do campo da suposição.
Da minha parte, peço desculpa, mas o futebol do Facebook pouco (ou nenhum) interesse me desperta.
Na verdade, não peço desculpa. E explico porquê.
Não me lembro de uma jogada de génio do futebol no Facebook. De um corte limpo. De uma saída a jogar perfeita. De um remate ao ângulo. De uma defesa impossível que afinal não o é.
Não me parece que haja um único miúdo na rua que, antes de começar a jogar e enquanto coloca as pedras que fazem de baliza, diga que quer ser aquele senhor que escreveu aquele comunicado brilhante com farpas certeiras no rival ou o outro que respondeu à letra ao roubo descarado de que está a ser alvo. Normalmente querem ser Jonas, Adrien ou André Silva.
O futebol do Facebook nunca me arrancou um arrepio. Uma emoção, sequer. É um monte de letras, escritas a ódio, seja qual for a cor da caneta.
É por isso que não compreendo como o rescaldo pareça despertar ainda mais interesse do que o futebol a sério. Como não entendo que um senhor de gravata possa ser o maior destaque desportivo num jornal. Ou como não entendo que o adepto que cresceu a idolatrar os artistas da relva perca agora tempo com os da secretaria. E já sabem que artista é das palavras portuguesas com duplo sentido, não é?
Juntar 22 jogadores num relvado começa a aparentar ser apenas um pormenor no bolo em que se transformou o futebol português. Um pretexto para que políticos da bola, expressão que acabo de cunhar, tenham espaço para medir intenções, históricos, perspectivas, ângulos de visão, comunicados, número de adeptos, malas, vouchers, apitos. O que for.
Desde que não seja futebol a sério.
Porque no futebol do Facebook há espaço para tudo menos para a estreia do Gelson na selecção, para os hat-tricks do Diogo Jota e do André Silva ou para o crescimento de Grimaldo. É outro futebol. Outro desporto.
Há coisas que nem o golo do Eder consegue mudar."
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