"A Taça dos Campeões Europeus de Hóquei em Patins (da qual o Benfica é titular) é quase um feudo espanhol - 42 vitórias contra cinco portuguesas e uma italiana. Ainda assim, a história das 'águias' é brilhante, com seis presenças na Final.
EM 1973 já o Benfica tinha estado presente por duas vezes na Final da Taça dos Campeões Europeus de Hóquei em Patins. Convém dizer que esta competição viu a sua primeira edição ser disputada na época de 1965/66. Por seu lado, o Campeonato Nacional disputou-se pela primeira vez em 1938/39, e o primeiro campeão foi o Sporting. Porque vou encher esta página com factos, números e datas (a vossa paciência que me perdoe), há que ser bem explicativo. Já começámos pela Taça dos Campeões, ideia base desta crónica, mas para já assentemos arraiais no Campeonato Nacional. O Benfica conquistou o seu primeiro título em 1950/51. E o segundo logo a seguir: 1951/52. Daí para cá somou mais 19 vitórias num total de 21. É de estalo!, diria o João da Ega. Pois é. Mas voltemos aos primórdios.
Se o primeiro campeão nacional foi o Sporting, precisaram de esperar os leões até à época de 1973/74 para serem campeões outra vez. Pouco depois venceram a Taça dos Campeões, tornando-se no primeiro clube português a consegui-lo, mas já lá iremos. Nesses tempos primevos, o grande dominador do Hóquei em Patins neste jardim à beira mal plantado era o Paço de Arcos, muito graças ao estilo único dos primos Correia, o Jesus Correia (que foi um dos Cinco Violinos) e o Correia dos Santos. Aliás, Correia dos Santos jogou nos dois Paços de Arcos: no Paços de Arcos Hóquei Clube e no Clube Desportivo Paço de Arcos, depois da fusão de ambos em 1945. Ou seja, até 1950/51, época do tal primeiro título 'encarnado', o Paço de Arcos tinha somado seis campeonatos (cinco de enfiada), cabendo os outros ao Sporting (1), Hóquei de Sintra (2) e Futebol Benfica (2). Tempos em que a Linha mandava no Hóquei.
Depois veio o Benfica: o Sport Lisboa. E a realidade mudou.
Como areia por entre dedos
NOS dias que correm, o Benfica acumula os títulos de Campeão Europeu (Taça dos Campeões), Campeão Continental (Supertaça Europeia) e Campeão Intercontinental (Taça Intercontinental). Falhou o título nacional para melhor ser impossível.
Foram precisos muitos anos para que o Benfica conquistasse a Taça dos Campeões Europeus que teimou em fugir-lhe por entre os dedos como areia por uma, outra e outra vez. Aliás, e para que conste e aqui fique registado com selo de garantia, o Benfica foi a primeira equipa portuguesa a chegar à Final de tal competição, em 1969, perdendo com o Reus (1-7; 3-0), Reus esse que cometeu a proeza de vencer seis Taças dos Campeões consecutivas, sucedendo ao Voltregá (primeiro vencedor, batendo o Hóquei Clube de Monza) e sendo depois destronado pelo Barcelona em 1973, ano em que o Benfica voltou a ser finalista, precisamente contra o Barcelona como é mais do que óbvio (3-2; 7-7). O Benfica começava a cumular derrotas na Final da maior prova internacional, tal como o Hóquei português que, na época seguinte, viu o Desportivo de Lourenço Marques ser batido pelo Barcelona (5-8; 4-5). Já íamos na décima primeira edição da competição e os clubes espanhóis somavam onze vitórias. Lá está, era de estalo!
Finalmente veio o Sporting. Primeira Final, primeira vitória, sobre o Vilanova (6-0; 6-3) - os leões só voltariam a jogar mais uma final, em 1988/89, frente ao Noia (4-7; 1-3).
Já o Benfica somou mais finais e mais derrotas. Em 1979/80, de novo contra o Barcelona (2-5; 3-6); em 1992-93, frente ao Igualada (1-4; 3-8); em 1994-95, outra vez perante o Igualada /3-4; 1-3). Cinco finais, cinco momentos tristes. A sexta Final do Benfica seria a Final feliz. No Porto, já com o novo sistema de disputa da prova («Final Four», meias-finais e Final a um só jogo, fundido-se as equipas da Taça dos Campeões com as da Taça das Taças), batendo primeiro o Barcelona e sem seguida o FC Porto.
Ah! Era a vingança perante a história.
Uma história que, conclua-se, foi sempre madrasta para com os clubes portugueses na Taça dos Campeões Europeus. Veja-se: vamos na 49.ª edição (e o Benfica defende o título) e só há cinco vitórias lusitanas (Sporting - 1976/77; FC Porto - 1985/86 e 1989/90; Óquei de Barcelos - 1990/91; Benfica - 2012/13). Quanto a finais perdidas, além das do Benfica, da do Sporting de Lourenço Marques e da do Sporting, às quais já fizemos referência, sobram as do FC Porto (1984/85, contra o Barcelona; 1986/87, contra o Liceo da Corunha; 1996/97, de novo contra o Barcelona; 1989/90, frente ao Igualada; 1990/00, perante o Barcelona; 2003/04 e 2004/05, ambas frente ao Barcelona; 2005/06, frente ao Follonica e 2012/13 frente ao Benfica: nove finais na situação de derrotado - é de estalo!), e do Óquei de Barcelos (1993/94, contra o Igualada e 2001/02 frente ao Barcelona). Isto é, só quatro equipas portuguesas foram campeãs da Europa, só cinco equipas portuguesas chegaram à Final da prova. Os espanhóis somam seis vencedores (Voltregá, Sentmenat e Vic), mas somam 42 títulos contra os tais nossos cinco. Sobra uma vitória italiana, a histórica de 2006 contra o FC Porto, e nove equipas italianas que atingiram a Final mas perderam (Novara, Monza, Triestina, Giovinazzo, Amatori Lodi, Roller Monza, Seregno, Amatori Vercelli e Bassano). O único país a fugir à ditadura destes três grandes foi a Bélgica: o Sundays Vanstahl conseguiu o feito extraordinário de atingir a Final na época de 1977/78 - foi inevitavelmente batido pelo Barcelona, por 3-8 e 1-5.
Não ficam por aqui as aventuras europeias do Benfica. Há presenças brilhantes na Taça CERS, no Torneio de Montreux e até na extinta Taça das Taças.
Histórias que ficam para a próxima que a prosa vai longa..."
Afonso de Melo, in O Benfica
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