"A época desportiva 2023/2024 do SL Benfica foi medíocre. Sim, foi uma das piores da história. Face ao contexto competitivo do nosso campeonato, tendo em conta o nosso brutal investimento e as expectativas criadas pela temporada anterior, ficar a 10 pontos do campeão, não chegar sequer à final da Taça de Portugal ou à final da Taça da Liga e realizar uma campanha europeia muito fraca, só pode ser considerado um fracasso total! Assumir esta realidade é o primeiro passo para se ganhar no ano seguinte.
Como em qualquer organização, há que perceber os motivos que levaram a esse insucesso. Só dessa forma se podem corrigir os erros e evitar que os mesmos se repitam no futuro. São 4 as causas desta terrível temporada desportiva: falta de planeamento; insuficiente qualidade de jogo/má gestão do plantel; ineficiente comunicação e falta de liderança.
O SL Benfica fez uma boa época em 2022/23 com a conquista do 38 e uma excelente campanha europeia, tendo falhado a presença na decisão das taças internas. Vencer um campeonato tem de ser uma normalidade no clube de Eusébio, Chalana, Cardozo ou Jonas. Não pode ser encarado como algo excecional. Isso fica apenas para grandes conquistas europeias ou épocas de “tripletes”. Falta ao Glorioso estar sempre “esfomeado” por títulos e troféus.
Como vem sendo hábito após o triunfo na maior prova nacional, o treinador, ligado a essa conquista, passou a ser um “herói” para os adeptos e a solução dos problemas para a estrutura. Tudo errado. Ele tem de ser parte da solução e não deve recair sobre ele a decisão de tudo na época seguinte. Por conseguinte, a escolha de nomes como o Jurásek para integrar o plantel devia ter sido imediatamente rejeitada quando a sua contratação foi pedida por Roger Schmidt. Mas os problemas de planeamento estiveram longe de se quedar apenas pelo internacional checo. Quem trabalha diariamente com o alemão tem a obrigação de o conhecer minuciosamente, nos seus defeitos e virtudes. Não é preciso ser um grande “expert” de futebol para perceber que o alemão não é um técnico que goste de trabalhar com plantéis muito extensos. Logo ter 18-19 titulares à sua disposição passou a ser um problema. Bem sei que temos épocas de 50-60 jogos, mas, como se viu, oferecer um plantel extenso a Schmidt foi um erro crasso, com consequências nefastas para o rendimento da equipa. Roger Schmidt somente encontrou um “11 base” em abril de 2024, algo que já havia sido alcançado na pré-época de 2022/23. A esta dificuldade acresce a falta de um lateral direito que constituísse um forte concorrente a Bah, a contratação de um avançado como Arthur Cabral que não preenche os requisitos que Schmidt estabelece para o seu “9” e a inclusão de uma estrela como Di María que “não trabalha sem bola”. Todas estas circunstâncias vieram desconfigurar a identidade de jogo do alemão. Roger Schmidt provou ser um treinador unidimensional, que não é capaz de adaptar a sua fórmula ao tipo de jogadores que tem à sua disposição. Não soube dar o passo em frente.
Sem prejuízo de tudo quanto antecede, o aspeto essencial que determinou o insucesso desta época foi qualidade de jogo miserável que a equipa apresentou em 80% dos jogos. Fred é “joker” no lado esquerdo do meio campo e nunca jogou nessa posição, facto do qual o coletivo se ressentiu de forma brutal, atentos os princípios de jogo de Schmidt. O “gegenpressing” nunca funcionou. Faltava o norueguês na posição certa. Di Maria e Kökçü “tinham” de jogar. E não havia uma “réplica” de Ramos sem bola. As nossas debilidades defensivas ficaram mais expostas e, muitas vezes, não ficaram traduzidas no resultado final porque o nível médio das equipas da Liga Portuguesa ainda é muito sofrível. No momento de jogo com a posse de bola melhorámos com Trubin a sair a jogar, mas em ataque posicional continuámos a revelar fraquezas (tal como já se tinha visto em 22/23). O único momento onde fomos realmente fortes foi a transição ofensiva em campo aberto, onde elementos como Neres, Rafa ou Di María fizeram valer as suas capacidades de decisão, velocidade e qualidade de passe, conseguindo, dessa forma, fazer muitas vezes a diferença.
Não posso deixar de dedicar uma palavra ao trabalho de análise ao adversário. Notou-se em pormenores (que são “pormaiores”) que o trabalho de análise ao adversário não é devidamente valorizado por Roger Schmidt. O que, claro, principalmente perante estrategas como Amorim ou Conceição, paga-se bem caro. Basta atentar no duplo confronto perante a Real Sociedad de Fútbol (que o alemão apelidou de equipa de transição!). Podíamos ter saído desses dois desafios vergados a duas goleadas. Quando o nível de exigência subiu, em 11x11, raramente demos uma resposta a condizer com a valia de um plantel dotado de muita qualidade. A exceção foi mesmo o “derby” na Luz para a Taça de Portugal.
Como se tudo isto já não fossem erros graves, também na gestão do plantel antes, durante e após os jogos assistimos a um mar de equívocos. Basta pensar em Arthur Cabral, que estava numa série boa de jogos a marcar e, sem nenhuma explicação, saiu do “11 inicial”. Ou atentar no caso de Tino, tido como jogador essencial e que esteve de fora das escolhas principais de Schmidt ao longo de meses decisivos da época. Ou recordar que jogámos vários meses com Morato como lateral esquerdo tendo Carreras como opção e, amiúde, mexemos na equipa só após os 80 minutos. De resto, também a gestão de Di Maria foi aberrante, prejudicando a equipa e até o atleta. Em suma foram sempre as individualidades a esconderem um fraco coletivo, o que quase sempre redonda numa época sem títulos.
Erros todos nós cometemos ao longo da nossa atividade profissional, é certo. Mas é preciso assumi-los para, depois, os corrigirmos. E, aqui, entramos na questão da comunicação. Assisti a todas conferências de imprensa de Roger Schmidt. Era sempre tudo “Top” quando todos víamos que era tudo menos “Top”. Quase nunca o ouvi a dizer que falhou. Não sabia, portanto, como havia de corrigir os erros que foi cometendo. Nunca falou do jogo. Refugiou-se sempre em lugares comuns em relação a cada adversário. Nunca o ouvi falar de um jogador do rival, nunca o ouvi explicar como jogava o seu opositor. Quase nunca o ouvi falar daquilo que interessa: futebol! Embora a maioria das questões fossem extrajogo, outras houve a incidir sobre o jogo e, em face de tais questões, Schmidt recusou-se a ir pelo melhor caminho. Mais a mais, acabou a época em “guerra” com os adeptos. Algo completamente surreal! Foram várias as oportunidades em que dirigiu contra a bancada. Tudo errado! Nunca vi um treinador ganhar essa luta (que nem deve ter!) com quem esteve sempre no estádio a apoiar a equipa do seu coração. A comunicação do clube, a todos os níveis, é um desastre, mas aquela que foi protagonizada por Roger Schmidt ultrapassou, em larga medida, os limites do admissível.
E quem é que lidera o clube? O presidente. É ele o principal responsável pelo estado atual do SL Benfica. Rui Costa não tem perfil para liderar a maior instituição desportiva de Portugal. É alguém que coloca a gravata de Presidente, mas quer o fato de treino de Diretor Desportivo. Ele quer ser o líder do futebol do SL Benfica, mas nem para isso tem sido competente. Pecou sempre pela ausência na defesa do treinador do seu projeto. Falou sempre em reação à contestação e nunca por sua iniciativa. Nunca ajudou o seu treinador a ter sucesso, o que podia traduzir-se na contratação de um adjunto mais estratega para a sua equipa técnica ou em “dar o peito às balas” na “guerra” com os adeptos, como bem espelhado pela sua postura no final de jogo em Vila do Conde. Como se viu no enfadonho “Media Open Day” de final de época, Rui Costa é um Presidente pouco convicto nas suas opções, que incorre em inúmeras incoerências e lugares comuns e que tudo faz menos unir os adeptos.
Last but not least, uma palavra para os melhores. A minha mulher, os amigos, os companheiros de bancada que tive nos estádios ao longo destes quase 50 jogos que assisti ao vivo. Foi uma época incrível de benfiquismo nas roulottes com o carinho dos amigos do Benfica Independente e, claro, nos convívios realizados em cada região por onde o Manto Sagrado passou, jornada após jornada. Vocês são o meu Benfica. Obrigado! ❤️
1904! 🔴⚪️"
A frase "uma das piores das historia" é estatisticamente factual, mas realisticamente é claramente escrita com um objetivo político de quem não olha a meios para atingir o fim. E, apesar do que possa dizer, e até mesmo acreditar o João Nuno, esse fim não é o bem do Benfica.
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