"Com ou sem razão, as atividades físicas e desportivas são consideradas como uma ferramenta de regulação dos comportamentos julgados problemáticos nas sociedades. No século XIX, em alguns colégios britânicos, o desporto foi utilizado para prevenir o onanismo dos alunos, uma prática julgada vergonhosa pelos educadores da época e devoradora de energia, em detrimento de um crescimento harmonioso dos estudos. À medida que as décadas passam, apercebe-se das virtudes atribuídas às atividades físicas e desportivas, não apenas centradas unicamente no corpo e na sua higiene, mas no alargamento à sociedade no seu conjunto, contribuindo para a solidariedade e para a luta contra o enfraquecimento da ligação social.
A ligação social, diga-se, é o conjunto de relações entre pessoas no seio de um mesmo grupo social ou entre grupos diferentes. Mais do que uma simples relação entre indivíduos, ela permite estabelecer a coesão social e contribui para a integração, conferindo uma identidade. Vários elementos contribuem para a criação da ligação social. Alguns deles parecem ser especialmente importantes: o trabalho, a família, a comunidade, o Estado, e outros, como o desporto e a escola.
Considerar o desporto como uma ferramenta de produção com potencial de ligação social supõe a atribuição de uma função social. Será o caso? No estado atual do conhecimento, já foi demonstrado que as atividades físicas e desportivas podem ter, em determinadas condições, as funções biológicas e psicológicas, e certas funções sociais. Os meios de comunicação social e os discursos políticos fazem essa promoção, mas são, sobretudo, fruto de crenças ou de ideologias. Muito estudo encontra-se por fazer. E, em Portugal, vive-se uma espécie de sonambulismo relativamente aos efeitos da prática da educação física e do desporto."
Vítor Rosa, in A Bola
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