"Talvez nunca como hoje se imponha na nossa vida colectiva a capacidade de dar e de pensar nos outros como se fôssemos nós. Bastou um micróbio para abalar as fundações do nosso edifício de ciência e progresso, relembrando-nos a condição animal que nos é intrínseca e trazendo às nossas reflexões e perenidade e fragilidade da vida. Para mais, atacou-nos no que nos é mais caro e que é mesmo, ao mesmo tempo, um dos principais factores do nosso sucesso enquanto espécie: a vida social. Dependemos uns dos outros para sobreviver, e se alguém porventura duvidasse disso, tem-no agora claro como água. E hoje, logo hoje, mandam-nos cumprir o afastamento social.
Que não se tenham dúvidas, o distanciamento social é mesmo eficaz e é para cumprir porque o constante jogo da evolução das espécies é um jogo mortal e tem tanto de belo como de cruel, isto é ainda mais duro no Natal, em que o há apelo à reunião familiar e à reafirmação cíclica dos nossos laços sociais, cumprindo uma tradição linda e secular. Por isso temos de reinventar manifestações de afeto e trocas de presentes, reaproximando-nos como nunca antes e estreitando os laços que dão sentido à nossa existência. Temos de inovar com inteligência e frieza de espírito. Temos de continuar o jogo, com tática e com estratégia, com esperança e resiliência, sem nunca deitar a toalha ao chão.
Tal como no Benfica, juntos vamos vencer convocando o melhor de todos e cada um. Vai ficar tudo bem!"
Jorge Miranda, in O Benfica
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