"Quando a explicação é o que se correu a mais ou a menos ou a quantidade de pele deixada em campo soa um pouco a um insulto à evolução do jogo. É óbvio que o campeão europeu e mundial Liverpool contribui para a confusão, já que corre que se farta esfomeado, mas está longe de ser só isso. Há dinâmicas, estratégicas, posicionamentos com e sem bola - ou não haveria gegenpressing -, talento individual e uma reserva de moral sempre atestada por um Klopp capaz de mexer com os atletas, a multidão e até com todos nós.
Embirro ainda com a questão Samaris. O grego teve uma boa metade de temporada, num contexto em que o duplo pivot não precisava de definir muitas vezes no ataque posicional. Havia, além de Rafa e Pizzi, um Félix entre linhas, que situava o momento de desequilíbrio mais perto da baliza. Os deslocamentos na direita também libertavam Pizzi e garantiam simetria na hora de recuperar a bola. Samaris é vítima da forma medíocre na pré-época, tal como Florentino o foi, mais tarde, de um Benfica bloqueado no processo criativo. Lage experimentou até encontrar a dupla Gabriel-Taarabt, que parecia sólida não fosse a lesão do brasileiro, elemento-chave da estrutura.
O treinador já teve momentos menos felizes, mas Samaris não entra na equação porque Lage prefere Florentino e a Florentino um Weigl ainda a procurar o seu espaço. Uma dupla Florentino - Samaris isolaria ainda mais Pizzi e Rafa, e como as vitórias dependem sempre da diferença positiva entre golos marcados e sofridos, o técnico prefere manter a pressão no ataque. Ao mesmo tempo, Ferro pode ser culpado pelo mau momento e até de alguns apoios incorrectos na reacção à bola descoberta, mas há alguém que não tem chegado a tempo nos movimentos de pressão. O FC Porto criou, isso sim, a dúvida, agora é preciso unir pontas soltas e acreditar. Ou não haverá volta."
Luís Mateus, in A Bola
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