"Após dois testes de pré-época, que tiveram finais diferentes, mas em que a equipa deixou boas indicações, o SL Benfica partiu para os States ou, como se diz em bom português, para os Estados Unidos da América. Com que propósito? Com o de completar a fase preparatória da época com a (terceira) participação na International Champions Cup (ICC), um dos mais prestigiados e, por consequência, prestigiantes torneios de pré-temporada.
Na prova, cujo pontapé de saída foi dado em 2013, sob o nome de Guinness Cup e com a participação de “meros” oito clubes, os encarnados vão realizar três partidas: frente ao CD Guadalajara – conhecido por Chivas – (20 de Julho, 21h05, hora de Lisboa), 14º classificado do mais recente campeonato Clausura; frente à ACF Fiorentina (24/25 de Julho, 1h05, hora de Lisboa), 16º classificado da Serie A 2018/19; e frente ao histórico gigante adormecido AC Milan (28 de julho, 20h05, hora de Lisboa), 5º classificado da última edição da Serie A.
Posto isto, vamos ao que me interessa analisar neste artigo. Apesar de no seio do clube não existirem dúvidas relativamente à participação neste torneio amigável, ainda subsistem, entre os adeptos, algumas reservas quanto a esta participação. Dizem que a primeira vez nunca se esquece e na memória benfiquista ficou cravada – e parece-me que para sempre perpetuada – a primeira vez que o SL Benfica disputou a prova, em solo estadunidense (sim, este vocábulo existe. Sim, soa um bocado estranho). Traumatizados, há benfiquistas que não pretendem reviver o trauma que foi o péssimo início de época 2015/2016, para o qual muito contribuiu o cansaço das viagens transatlânticas e entre cidades norte-americanas. Compreendo a preocupação. No entanto,…
… é redutor ficar preso a um medo que, sob análise, acaba por ter um quê de irracionalidade. Por dois grandes motivos. Primeiro, essa época começou muito mal, mas acabou com a conquista do tricampeonato. Segundo, o mau início de campanha na temporada 15/16 não se deveu apenas à participação (mal preparada, diga-se) na ICC. Não podemos nem devemos nem conseguimos esquecer que se tratou de uma época de profundas mudanças. Mudou o treinador (Jesus – Vitória), mudou o plantel, mudou a estratégia, mudou o paradigma. A instabilidade era demasiada para que o clube colhesse os devidos frutos da digressão pelos Estados Unidos.
Todavia, o receio acorrentou mesmo o SL Benfica à inação e nas duas edições seguintes não houve representante português no torneio. No entanto, mediante convite, o clube da Luz voltou a terras de sua majestade Donald Trump (ele pediu-me para ser assim apelidado) no ano de 2018. Uma boa prestação que, apesar dos receios, não comprometeu o exigente início de época vermelha e branca, que dessas cores acabou pintada, com os festejos do 37. Contas feitas, duas participações na ICC, dois campeonatos.
Como já se percebeu, sou a favor da participação benfiquista na International Champions Cup (e de outras coisas que não interessam ao caso). Contudo, parece-me sensato, nos parágrafos seguintes, elencar os prós e contras… ou melhor, os prós e os contras, uma vez que a primeira designação pode ser marca registada da RTP. Assim, e canalizando a Fátima Campos Ferreira que há em mim, vamos à análise.
Guardando o melhor para o fim, comecemos pelos contras. Como noticiou o diário Record, o SL Benfica vai voar um total de 19 mil quilómetros, segmentados em quatro viagens. Até a águia Vitória ficou atónita. São muitas milhas aéreas e, consequentemente, é muito cansaço acumulado. É natural que, tal como eu, haja quem, do alto da sua portugalidade, diga: “Cansaço? Cansado fico eu que viajo em económica, eles é só mordomias!”. É verdade, mas acalmem-se, não é preciso exaltarem-se. No entanto, o desgaste físico e psicológico é inegável e faz-se sentir em alta competição.
Um contra que pode parecer de somenos importância mas que pode constituir um aspecto desestabilizador do grupo de trabalho é o facto de os jogadores contratados terem que se deslocar para os EUA e integrar a equipa de Bruno Lage longe, muito longe de casa. Volvidos a Portugal, terão de passar por um novo processo de integração e concluir todos os trâmites da transição para Lisboa e para o SL Benfica. Além do mais, integram a equipa a meio de um estágio. Todo este processo pode revelar-se moroso, complexo e difícil.
Por entre a bruma (não é uma referência ao jogador) dos contras puros, surge um contra vira-casacas, um contra que já foi pró. Nas edições anteriores, a viagem compensava por possibilitar confrontos com equipas como a Juventus FC, o Borussia Dortmund, o O. Lyon ou o Paris SG. Ora, como referi, este ano o campeão nacional vai andar pelos ares 19 mil quilómetros para defrontar o 14º classificado do campeonato mexicano e o 5º e 16º classificados da Liga Italiana. Escusado será dizer que nenhuma destas equipas disputará a Liga dos Campeões. Valerá mesmo a pena?
Sim. Não só pelo tamanho da alma benfiquista, que não é nada pequena, mas também pelos prós que enuncio de seguida. Ainda que não entrem em confronto com o SL Benfica, participam na ICC clubes como a campeã italiana Juventus FC, o campeão alemão FC Bayern Munchen, o vice-campeão europeu Tottenham FC, o comprador-mor Club Atlético de Madrid e o comprador ainda maior Real Madrid FC. A presença de clubes de tão grande magnitude prestigia o torneio e, claro, o SL Benfica beneficiará invariavelmente com esse prestígio.
Por outro lado, a valorização e a internacionalização da marca Benfica ganham muito com a participação na ICC. Todas as actividades paralelas – as visitas de Luisão às cidades por onde passará a comitiva encarnada, a parceria com os San Francisco 49ers, equipa californiana de futebol americano (o que me custa escrever esta expressão, aquilo não é futebol) – contribuem de sobremaneira para exportar, fazer crescer e dinamizar a marca Sport Lisboa e Benfica.
Num momento em que no mundo do futebol impera a lógica comercial, tudo isto é importantíssimo. Ainda numa lógica de mercado, veicularam, há alguns meses, notícias que davam conta de um prémio de cerca de três milhões de euros pela participação na ICC. Peanuts, para quem vende por 120 milhões, mas é dinheiro.
Mas como não só de dinheiro vive o futebol (não se riam, vá), importa destacar os adeptos, que vivem separados por um oceano de uma das suas maiores paixões e que, desta forma, podem matar saudades do SL Benfica e, a uma certa extensão, de Portugal.
Então, should we stay or should we go? Devemos ficar ou devemos ir? Pesando os prós e os contras, acredito que devemos ir. Um clube da dimensão do SL Benfica não pode ficar fora destes eventos. Um clube da dimensão do SL Benfica não se pode deixar acorrentar por grilhões de medos e inseguranças. Um clube da dimensão do SL Benfica tem de fazer jus à sua águia e voar. Mesmo que sejam 19 mil quilómetros."
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