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quarta-feira, 10 de julho de 2019

A despedida de Jonas: Obrigado, Pistolas!

"Não há melhor forma de lembrar Jonas do que em dois momentos capitais na sua estadia no SL Benfica. O primeiro, literalmente o primeiro, delineou toda a sua carreira na Luz e avisou a todos os que lá estavam presentes (que sortudos!) o que aí vinha: 5 de Outubro de 2014. Numa tarde soalheira, a Luz enganala-se ainda não sabe para receber bem o quê. O Benfica ressacava de um tareão a meio da semana em Leverkusen e toda a gente queria ver uma resposta forte, servindo-se do Arouca como vítima. Não começou bem o certame e o sol que cobria as bancadas fazia os seus esforços para aquecer o ambiente preocupado que um jogo frio insistia em arrefecer. O espectáculo era de má qualidade, os assobios tímidos começavam a surgir e Jorge Jesus, se já fazia contas debaixo da cabeleira branca, ficou com ainda mais trabalho quando vê Lima a ir ao chão pouco antes do intervalo. Era obrigado a mexer, a mexer-se, a solucionar mais um problema que não esperava ter. 
Seguiu a lógica e mete o recém-chegado Jonas Gonçalves Oliveira no gramado. O brasileiro veste o blazer, mete o chapéu de coco e faz a Luz desligar-se quando, ao primeiro toque na bola, sossega uma carambola a meio-campo, faz a bola passar sobre a cabeça de um inocente arouquense e distribui, elegantemente, para a esquerda. O foco estava todo naquela meia-figura, todos os presentes deixaram cair os queixos e, atonitamente em uníssono, deixam soltar um estupefacto “Ohhh”. Sem que percebessem, testemunharam o nascimento de uma figura mítica da recente história do Benfica e, junto a Simão e Cardozo, uma das referências máximas do século XXI.
Já como estrela principal por mérito próprio, um ano depois, Jonas e o Benfica visitavam o Bessa para mais uma final na emocionante temporada 2015-2016. O marcador (0-0) foi-se mantendo apesar das investidas encarnadas e o tempo começava a esgotar-se. Eliseu, perto do final, decide despejar uma bola na área e Carcela desvia de cabeça: as luzes apagam-se, novamente.
Um foco ilumina apenas Jonas e, naquele microssegundo em que a bola surge na sua frente, ele é o homem mais feliz do mundo. Um sorrisão, que só não é gargalhada porque não havia tempo para isso, atravessa a cara do brasileiro. Naquele microssegundo, trocaram-se carinhos, houve paixão intensa, Jonas e a bola tornaram-se tão cúmplices e enamorados que não restava mais nada que ela, ela mesmo, despedir-se do pé esquerdo do par e arrumar-se nas redes brancas, qual véu de noiva. Jonas era assim, elegante e galanteador como ninguém: só tinha olhos para ela, a bola. Jurou e prometeu ser-lhe fiel, amá-la e respeitá-la, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias com a camisola do Benfica, num matrimónio que fez de todos nós os mais orgulhosos filhos.
Em 5 anos, Jonas, como Néné, nunca precisou de se sujar para conquistar a Luz. O fato de macaco deixou-o para outros e, de fato e gravata, comandou o Benfica na recuperação da hegemonia do futebol português: 137 golos, 42 assistências, quatro campeonatos, uma Taça de Portugal, duas Taças da Liga, duas Supertaças, duas Bolas de Prata e duas vezes Melhor Jogador do Ano. Sempre conseguiu associar a eficácia a um ideal sem precedentes pela beleza do espectáculo. Jonas foi, na história do Benfica, dos melhores a juntar competência ao divertimento, o compromisso à alegria.
Os problemas físicos que o impediram de terminar com ainda melhores números foram uma batalha longa e a prova da resiliência incrível de Jonas: depois de um 2016-2017 intermitente e de sucessivas recaídas, em 2017-2018 o brasileiro pulveriza recordes pessoais e do clube, com 34 golos em 30 jogos apenas para a Liga. Foi este espírito de sacrifício que foi sempre visível no carácter de Jonas e que também ajudou á construção do seu estatuto no balneário, numa postura que era (e é) exemplo para todos. No fundo, Jonas decidiu fazer felizes todos os que o rodearam, sem pedir nada em troca. Jonas Gonçalves Oliveira decidiu, como prova de gratidão, devolver o Benfica ao topo do futebol português e, como se isso não bastasse, ainda nos agradece em lágrimas.
Obrigado nós, Pistoleiro."

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