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domingo, 26 de maio de 2019

Sabe quem é? Treino, até na toalha - Bruno Lage

"Dos 450 euros no Sintense aos 500 mil (mais um milhão) no Benfica; O dia em que Cancelo lhe «deu pau»

1. O pai foi fazendo vida como treinador por clubes de Setúbal: o Comércio e Indústria, o Sesimbra, o Palmelense. Ele cresceu a jogar pela Fonte do Lavra. E não, não se pode dizer que, como jogador (que começou a ser no Independente), a sua carreira se tenha feito de fulgores e brilharetes - era extremo direito e andou pelo União Praiense (das Praias do Sado) e o Quintajense. (Tinha, porém, num sortilégio do destino, a eternidade à sua espera, por outro caminho...)

2. Mesmo quando ainda só andava pelos jogos de rua na Fonte do Lavra já era ele que dava táctica e depressa passou a ser hábito ve-lo atirado ao Spectrum, horas a fio, a simular jogos e estratégias. (Quando ainda andava na Escola da Bela Vista, para torneio inter-turmas, só quis ser quis ser treinador, sua equipa ganhou-o e conta-se que, ainda, hoje, fala disso como o seu «primeiro troféu»).

3. Ao terminar o secundário foi para o curso de Educação Física, Saúde e Desporto - e, aos 19 anos, já andava pelo V. Setúbal a ajudar José Rocha, treinador dos juvenis, na parte física do treino. Adjunto de Fernando Cruz nos juniores, saltou do Vitória as Escolas de Futebol de Quinito, no 1.º de Maio da Varzinha. (Por essa altura, apanhava-se-lhe, firme, a ideia de que, só queria era ser preparador físico...)

4. Algures por 2000 Jaime Graça (que, por ter sido electricista, quando jogava em fulgor no Benfica salvara Eusébio de morrer electrocutado na hidromassagem) levou-o para o Fazendense. Não tardou, passou a ver-se-lhes em ritual: ao jantar, a toalha de papel do restaurante acabava toda escrevinhada com sistemas tácticos, treinos inventados.

5. No seu último ano de jogador: em 2002, no Quintajense - ainda passou pelo Comércio e Indústria a coadjuvar o pai (e acabou a época como treinador principal). José Rocha desafiou-o para o Estrela de Vendas Novas. Mal chegou, os jogadores perceberam que, com ele, o treino físico deixara de ser a tradicional corrida na mata (que fora o que Mourinho também descartara), fazia-se de princípios revolucionários, estratégias científicas, com bola.

6. Adriano Filipe, presidente do Sintrense, foi desencantar Rui Esteves ao Fazendense. Esteves pediu que o levassem também. ( No perfil que Rui Miguel Melo escreveu em A Bola, Esteves contou-o: «Entrávamos na minha casa às 17h, ele saia às 4 da manhã, só a programar treinos e a discutir pormenores. Percebi logo que ia ser grande treinador»). Dava treino três vezes por semana, ganhava 450 euros por mês.

7. Derrota em Elvas, fez com que Rui Esteves pedisse para deixar a equipa - por não a achar capaz de subir de divisão, Adriano Filipe quis pô-lo a ele, treinador principal. Por solidariedade com Esteves, recusou o desafio - e Jaime Graça (que voltara ao Benfica) correu a falar com António Carraça, dizendo-lhe, num clamor: «Há miúdo de Setúbal com muita capacidade e qualidade, devíamos apostar nele». Entrou como treinador dos sub-11 - saltou para os iniciados, os juvenis, os juniores (e sempre em mais ribalta...)

8. Criou prodígios - do Bernardo Silva ao Gonçalo Guedes. Por vezes entrava na peladinha - e, num dia assim, Cancelo, fez «carrinho às pernas do mister», tão destemperado o fez, que, pelo campo, ao espanto e ao desconcerto se seguiu o embaraço. Foi de pronto, o Cancelo, mandado para o banho - e a peripécia jamais deixou de andar de boca e boca, contada como a vez em que até «deu pau no mister».

9. Após a morte de Jaime Graça aventurou-se ao Dubai. Carlos Carvalhal levou-o para o Sheffield e o Swansea - e ao Benfica voltou para a equipa B. O resto é o que se sabe: depois da «luz que lhe deu» ter mantido Rui Vitória como treinador, Luís Filipe Vieira teve mesmo de ceder - e despedi-lo. Andaram vários nomes em rumor: de Jorge Jesus a Paulo Fonseca (Vieira ainda largou a Cristina Ferreira o brado: «Se Mourinho quiser, vem hoje para o Benfica, dinheiro não é problema) e ele, que começara por ser talvez efémera solução de recurso tornou-se na maior figura da conquista do título. Ao pegar na equipa, ficara a receber 30 mil euros por mês - e em vésperas de ir ganhar ao FC Porto, LFV renegociou-lho, passou-lhe o ordenado para 500 mil euros ao ano (e junto-lhe promessa de bónus de um milhão em caso de ser campeão...)"

António Simões, in A Bola

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