"Partiu ontem desta vida, aos 93 anos, Augusto Camacho Vieira, médico, fadista e ser humano excepcional. Em Camacho Vieira, mais do que chorar a morte, há que celebrar uma vida preenchida e inspiradora, que pode e deve servir de exemplo, em todas as eras, muito particularmente nestes dias de terra queimada por que passa o futebol em Portugal.
Tive o privilégio de me cruzar com o doutor Camacho durante muitos, e muitos anos, no Belenenses e nas Selecções, e dele recolhi exemplos de humanidade e solidariedade, que procuro, ainda hoje, na medida das minhas insuficiências, emular. Cirurgião ortopédico que marcou uma época e intérprete aplicado do fado de Coimbra, creio não lhe fazer nenhuma injustiça se disser que não será por nenhuma dessas facetas - uma e outra relevantes nas respectivas áreas - que será principalmente recordado. Melhor do que umas mãos de gelo ou uma voz de cristal, era o seu coração de ouro, a disponibilidade para ajudar, uma forma de estar simples, de quem tinha bem estar financeiro e reconhecimento profissional e mesmo assim se comportava com a humildade apenas ao alcance dos verdadeiramente grandes.
Atrevo-me, com afecto, a recordar um episódio que vivi com Camacho Vieira. Estava eu a cumprir a recruta nos Comandos quando, na prova de fogo, em Santa Margarida, lesionei o joelho. Vim para Lisboa e na observação o doutor Camacho fez-me um teste e eu senti uma dor lancinante, ao que ele me disse, com um inimitável sentido de humor: «É menisco. Se não estava partido, agora está...» Operou-me um mês e meio depois eu estava a jogar. Até qualquer diz, doutor..."
José Manuel Delgado, in A Bola
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