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terça-feira, 29 de novembro de 2016

No Bósforo, no estádio do Paxá...

"A primeira vez que o Benfica se deslocou a Istambul foi em Junho de 1962. Tinha acabado de conquistar a sua segunda Taça dos Campeões Europeus e concluiu uma digressão que o levou ao Egipto e ao Chipre. As águias venceram o Fernerbahçe, campeão turco, por 3-1.

Falemos hoje, depois de semana europeia e deslocação a Istambul, da primeira viagem do Benfica à Turquia. Foi na sequência de uma digressão dos recentes bicampeões europeus ao Egipto e ao Chipre. Nesse tempo todo o mundo queria ver a equipa de Eusébio, Coluna, Simões e José Augusto. De todo o lado choviam convites e a águia voava um pouco por toda a parte, da Europa à África e às Américas, mais tarde também à Ásia e Oceânia. Não houve continente no qual não tivesse pousado.
Mas eu trazia aqui à vossa página o mês de Junho de 1962. O Benfica batera o Real Madrid em Amesterdão e era a grande equipa do momento. Viaja para o Cairo, onde perde com o Nacional por 2-3, passa por Nicósia, onde aplica duas goleadas (5-1 e 6-2), aterra em Istambul para defrontar o campeão turco, o Fernerbahçe. Hoje, o Fernerbahçe tem 19 títulos de campeão; na altura acabara de conquistar o segundo. Foi um jogo alegre, com um público atento e participativo. O Benfica venceu por 3-1 e assinou uma exibição de categoria, não tivesse tanta fama na sua esteira. Ao intervalo já estava 2-0 para os lisboetas.
«O Benfica conseguiu ganhar o seu ascendente numa batalha travada em duas frentes: na defesa, mercê da aplicação do seu sector de segurança, com relevo para Germano e até para Costa Pereira; no ataque graças à brigada de assalto constituída especialmente por Águas, Eusébio e Simões, apoiados da retaguarda por Coluna, José Augusto e Cavém», contava a imprensa da época.
Estavam mais de 20 mil pessoas no Estádio Paxá Mah Mitthatt. Um público entusiasta, pleno de fervor. Havia essa vontade máxima de vencer o campeão europeu. Seria único para os turcos. Algo de incrível. Por isso o povo apoiava os seus com a força de gargantas roucas e de uma crença enorme. Debalde. Ao intervalo já o Benfica vencia por 2-0. Golos de Coluna e Eusébio, aos 38 e 40 minutos. Duas rajadas de água gelada sobre o pequeno inferno de Istambul.

Aplausos para os campeões
A verdade é que esse Benfica estava preparado para qualquer ambiente. Não por acaso vencera duas finais da Taça dos Campeões e, no final dessa época, enfrentaria uma terceira consecutiva. Era uma equipa inteira e sem falhas comprometedoras. Desde que mantivesse a atenção e o acerto defensivo, dificilmente não marcaria mais golos do que o adversário. No segundo tempo manteve a toada. Águas fez o 3-0, aos 59 minutos. Depois... Depois, vamos lá ler as palavras de uma testemunha ocular dessa tarde à beira do Bósforo: «Exactamente à entrada do último minuto houve, finalmente, um golo turco, obtido depois de uma jogada confusa em frente à baliza de Costa Pereira. O árbitro ordenou a marcação de uma grande penalidade que proporcionou ao Fernerbahçe o ponto de honra. Poucos segundos antes, num choque que não fora provocado por nenhum incidente, Coluna ficara com uma brecha na cabeça ao embater em voo com um jogador turco».
Vitória tranquila, portanto.
Vitória de uma equipa poderosa que dava cartas por toda a parte e não se deixava intimidar fosse por que ambiente fosse. Assim, o cronista encerra a sua história: «A impressão deixada pelo Benfica foi ilustrada pelo comportamento do próprio público turco: ao terminar o encontro, apesar de se tratar de um público dos mais 'caseiros' de todo o mundo, os espectadores sublinharam a saída dos jogadores portugueses com prolongados aplausos - prémio merecido pela sua melhor exibição».
Pela primeira vez, o Benfica jogava na Turquia e deixava impressa a sua marca de campeão. Haveria de voltar, uma outra e outra vez. Geralmente com resultados agradáveis quando se tratou de eliminatórias para as taças europeias. Na semana em que a águia voltou a voar para Istambul, era altura ideal para recordar essa viagem primordial. E umas das vitórias que ficaram marcadas na memória dos turcos..."

Afonso de Melo, in O Benfica

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