"Que se mantenha bem acesa a estrelinha tão maravilhosamente expressa no momento em que Artur, sentado à porta da baliza, viu ir parar-lhe às mãos uma bola que só podia ser golo.
DO debate entre os candidatos à presidência do Sporting, transmitido na noite de terça-feira na SIC, terão os sportinguistas, os principais interessados, retido aquilo que mais lhes aprouve reter. Em função das simpatias e das antipatias que nutrem pelos concorrentes, naturalmente, mas também em função da atenção prestada ao que os mesmos diziam.
Como benfiquista, também naturalmente, retive aquilo que mais me aprouve reter: o momento em que o candidato Carlos Severino explicou os fundamentos da urgência da contratação de Jorge Jesus pela sua direcção, em caso de vitória eleitoral no sábado. Ou no domingo. Ou mesmo na próxima terça-feira, pois dizem que a contagem dos votos poderá ser demorada.
«Jorge Jesus veste-se como o Cruyff, Jorge Jesus penteia-se como o Cruyff...», disse Severino. Está dito. E nem vale a pena discutir se Jesus e Cruyff se penteiam da mesma maneira o não, embora eu tenha uma ideia bem formada sobre o assunto que não vou explanar porque não é esse o assunto que interessa ao País.
Indiscutível é o facto de o treinador do Benfica, que este ano ainda não ganhou nada como o próprio não se cansa de nos fazer recordar, ter conseguido despertar paixões assolapadas e declarações entre os nossos maiores rivais. Refiro-me ao Sporting pelo já enunciado e ao FC Porto pelas palavras de António Oliveira, muito directo ao âmago da questão no momento de projectar o nome do próximo treinador dos dragões.
Coisa nunca vista, esta de um treinador ser cortejado às claras e às escuras pelo inimigo quando a temporada entra na sua fase decisiva.
O nosso País anda triste e negro como o breu, concordarão. E a ciência de Jesus, os aforismos de Jesus, os neologismos de Jesus, Jesus professor universitário, toda esta torrente justificada e potenciada pela provavelmente surpreendente liderança do Benfica no campeonato, estão a transformá-lo numa figura nacional de cariz genuíno e autêntico, como há poucas para alegrar e dar esperança à malta.
Gostavam de ter isto os nossos rivais, claro que gostavam. Quem lhes pode levar a mal?
NAS vésperas de ir a Alvalade jogar para o campeonato o treinador do FC Porto desvalorizou o grau de dificuldade da vitória somada pelo Benfica no mesmo recinto perante o mesmo adversário, recordando que o Sporting que defrontou e perdeu com o Benfica não tinha descansado as obrigatórias 72 horas entre a recepção ao rival e o seu último jogo europeu.
Se foi por isso ou por outra razão qualquer que o Sporting perdeu 1-3 em casa com o Benfica para, meia dúzia de jornadas depois, mais descansado, forçar o FC Porto a um empate nunca se saberá. Futebol é futebol e, por vezes, acontecem coisas estranhíssimas e inexplicáveis que contribuem para a glória e popularidade do jogo.
O bom senso face ao recente episódio da desqualificação-requalificação do FC Porto das meias-finais da Taça da Liga, por causa das espinhosas 72 horas regulamentares, recomendaria a Vítor Pereira que não utilizasse semelhante argumento. Mas utilizou, paciência.
Foi também por uns minutinhos que o Benfica não cumpriu as 72 horas de descanso entre o jogo de Bordéus na noite de quinta-feira para a Liga Europa e o jogo de Guimarães para o campeonato nacional. O Benfica não só não se queixou como ganhou os dois jogos com grande naturalidade e por números convincentes, o que também me agradou.
Agora faltam sete jogos para o fim do campeonato e se o Benfica quiser ir o mais longe possível na Liga Europa faltam-lhe cinco jogos, incluindo o da final. Quem corre por gosto não cansa, diz a sabedoria popular.
E que se mantenha bem acesa lá no alto a estrelinha que nos tem guiado e tão maravilhosamente expressa naquele momento do jogo na cidade-berço em que Artur Moraes, confortavelmente sentado à porta da sua baliza, viu ir parar-lhe às mãos uma bola que só podia ser golo.
VÊM aí dois jogos tramados de difíceis para a Selecção Nacional, compromissos que muito decidirão sobre a presença ou a ausência da Selecção Nacional no Mundial do Brasil. Imaginar um Mundial de futebol no Brasil sem Portugal é uma vergonhaça. Não há volta a dar-lhe.
O extraordinário momento de forma de Cristiano Ronaldo é uma esperança maior para os desafios com Israel e o Azerbeijão que obrigaram à interrupção do campeonato nacional. Fica então por saber se conseguimos ou não conseguimos ir ao Brasil no Verão de 2014.
Fica também por saber se João Moutinho recupera na Selecção da maleita que o tem impedido de jogar pelo FC Porto. Se recuperar é uma boa notícia para Paulo Bento. Se não recuperar, logo se disctutirá, em função dos resultados, se João Moutinho faz mais falta ao FC Porto ou à Selecção Nacional.
Todas estas discussões são sempre em função dos resultados, não é verdade?
TAL como aconteceu em Inglaterra nos anos de Margaret Thatcher, temo que o hoologanismo social vigente no nosso País encontre o seu mais notório escape nos territórios sempre permissivos do futebol. Os últimos acontecimentos justificam esta preocupação. Pela primeira vez vimos presidentes de clubes de futebol pedir desculpa aos adeptos-cidadãos pelo comportamento violento, e já aparentemente incontrolável, de grupos organizados de supostos apaniguados deste ou daquele emblema.
A importância da polícia é de fazer chorar as pedras da calçada. Atiram-se blocos de cimento de cima de pontes e os autores da proeza continuam anónimos. Entre gente em estádios carregando petardos e outros aparelhos de tiro diligentemente manufacturados e não há barreira que os detecte e que os detenha.
Voam cadeiras nos estádios, voam petardos em aeroportos. A onda alastra e os sintomas de impunidade são tanto ou mais assustadores do que a própria violência social de que emana.
O presidente do Vitória de Guimarães, o último clube vítima deste neo-hooliganismo português, pedindo desculpa pelo comportamento de um grupo de supostos adeptos do Vitória Sport Clube no jogo com o Benfica, terminou o seu lamento público com um desabafo mais do que legítimo:
- Esta gente não pode gostar de futebol.
É isso mesmo, presidente. Não gostam mesmo. Estão lá apenas porque os deixam.
VEM aí um domingo sem campeonato, fenómeno que de tão raro de torna desconcertante. Para quem habita na capital e é dos nossos há, no entanto, a possibilidade redentora de um domingo sem campeonato, é verdade, mas com futebol e com Benfica.
Trata-se de um filme. Portanto, de uma ida ao cinema. A programação da 6.ª edição do Festival do Cinema Italiano traz-nos um tesouro: Benfica-Torino 4-3, um documentário realizado por Andrea Ragusa, sobre a tragédia que fez desaparecer a grande equipa do Torino a 4 de Maio de 1949.
O Torino foi a equipa convidada pelo Benfica para abrilhantar a festa de despedida do seu jogador Francisco Ferreira no Estádio do Jamor. Na viagem de regresso, e quando já se preparava para aterrar o avião que transportava a equipa italiana embateu na colina de Superga. Uma tragédia sem sobreviventes.
Em Itália a consternação foi geral. E nas derradeiras quatro jornadas do campeonato os adversários do Torino fizeram alinhar os juniores para permitir ao emblema destroçado sagrar-se campeão de Itália. Em Portugal, a comoção não foi menor, como se compreenderá, e milhares de lisboetas dirigiram-se à embaixada de Itália para assinar o livro de condolências.
O filme Benfica-Torino 4-3 é sobre isso tudo. É exibido numa única sessão no próximo domingo, dia 24 de Março, às 15-15 horas, no cinema São Jorge."
Leonor Pinhão, in A Bola
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!