"A centralização dos direitos audiovisuais das ligas portuguesas é essencial para a indústria, os clubes e os operadores. Convém, no entanto, que os adeptos não sejam esquecidos no processo
Não esmiucei todas as possibilidades, confesso. Mas sei, como qualquer adepto de futebol, quanto tenho de pagar mensalmente para aceder a todos os jogos que me interessam sem depender de uma ida ao café (onde acabaria por gastar também) ou agarrar-me à assinatura de um amigo ou familiar, sem a maravilhosa autonomia de ter, por exemplo, o campeonato inglês a passar enquanto se faz o almoço de fim de semana, ou poder escolher qual dos jogos de cada momento estão mais apetecíveis.
Claro que há uma dimensão profissional importante, no meu caso. Mas acreditem — já houve alturas em que ela não existiu, mas nunca cheguei a resistir muito tempo à tentação dos canais premium.
Poderia ter optado pela pirataria, com alguns riscos inerentes, mas sobretudo com grande peso na consciência, e por isso não o fiz nem pretendo fazer. Mas compreendo quem o faz, porque sinto no bolso o mesmo que muitos outros milhares de portugueses.
A centralização de direitos audiovisuais dos campeonatos profissionais nacionais está em marcha, e a A BOLA explica hoje, em detalhe, o conteúdo da primeira proposta da Liga Portugal à Autoridade da Concorrência, que no final das contas decidirá — ou melhor, aceitará, o que é mais ou menos a mesma coisa — os termos do processo.
Está em jogo o futuro da indústria, dos clubes e dos operadores, isso é certo e muito caminho haverá por desbravar até todos se convencerem de que se calhar vai ser preciso abdicar de algo para se colher mais (e melhor, e mais consistente) no futuro.
O mercado da transmissão de futebol em direto está em regressão e será ingénuo alguém pensar que vai conseguir ganhar mais do que tem ganho até aqui. O que a centralização visa é a melhoria possível para todos, mas através de um mecanismo mais complexo e demorado: maior competitividade, menor desnível entre primeiros e últimos, produto mais apetecível, vendas melhores no futuro. Mas é no futuro (se calhar muito no futuro), não necessariamente agora.
Além da indústria, dos clubes e dos operadores, porém, é preciso não esquecer quem no fundo os sustenta: os adeptos. São eles quem têm de estar no centro das preocupações. São eles que devem poder, a preços razoáveis, continuar a alimentar todo o ecossistema. E já todos perguntámos: quanto teremos de pagar para ver futebol a partir de 2028?"

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