"Enquanto a bola não rola, a sede mediática, exagerada pela falta de assunto, explora a proibição às bebidas alcoólicas no Mundial do Catar, como uma ameaça aos direitos humanos de centenas de milhares de adeptos em luta contra o calor excessivo, a humidade asfixiante e a reduzida oferta de prazeres lúdicos, incluindo as incomodativas restrições sociais e de género.
Para muita gente, futebol sem álcool é como Cristiano Ronaldo sem “ketchup” - um pesadelo do qual só se desperta com o barulho das rolhas a saltar.
Sinto pena pelos ingleses, dinamarqueses ou brasileiros a ressacar nestes primeiros dias nos passeios da “Corniche” de Doha, em busca da magia de um tirador de imperiais, até os polícias da abstinência acabarem por baixar a guarda, sensíveis aos protestos mundiais contra este atentado.
E também venho sofrendo com a ansiedade do madeirense por molhar o bico numa baliza qualquer, por um golo que seja, de entrada como aperitivo ou determinante como digestivo, em cálice de cristal ou em caneca de penálti, mas que o sossegue e nos anime.
“Vintage” da mais apurada casta de futebolistas portugueses de sempre, Cristiano enfrenta a “lei seca” do final de uma carreira regada pelo sucesso, fermentando a sua colheita de pior qualidade e mais baixa graduação de que há registo, só recuperável através de um Mundial de muito boa cepa.
Podia ser uma questão pertinente para as reportagens das televisões portuguesas, para as quais no Mundial apenas existe o branco da selecção da FEMACOSA e o tinto dos adeptos na rua: será mais fácil ele inebriar os portugueses, brindando à presença do grande maluco Marcelo do bombo, com uma primeira degustação, já no jogo de estreia com o Gana, ou algum adepto conseguir embebedar-se nos souks de Doha, com minis a 15 euros a garrafa?
Sou dos que acreditam e aposto uma rodada em como ganeses, uruguaios e coreanos vão provar o néctar do melhor Cristiano: "hip, hip, Siiiiiiiim".
A “lei seca” em torno das grandes competições de futebol começou há mais de 30 anos, por causa dos “hooligans”, mas foi sempre gerida com margem de manobra e bom senso pelos organizadores, muito dependentes, aliás, do patrocínio de marcas globais de cerveja: lembro-me de beber um branco fresquinho servido às escondidas em garrafas de água San Benedetto, ao almoço em Nápoles no dia das meias-finais do Itália-90, quando já ninguém suportava a proibição.
No Catar, não há-de ser diferente e quem se portar bem acabará por matar a sede: de cerveja à socapa no “bazaar", ou de golos à discrição nos estádios da vergonha."
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