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terça-feira, 20 de setembro de 2022

Rafa Silva | No meio está a virtude


"Como É Que Descreves O Desempenho De Rafa Neste Início De Temporada?

As qualidades mais vincada de Rafa responsabilizaram-no desde sempre por terrenos mais laterais no ataque ao golo, habituando o público a olhá-lo como um extremo á antiga quando a realidade é muito diferente, como fica definitivamente provado em 2022-23.
Rafael Silva é um prodígio como condutor em zona interior e é por aí que será sempre superlativo e de classe internacional – pelas capacidades excepcionais na recepção orientada e drible, além da velocidade – já que na ala muita da tão necessária liberdade posicional e criativa para potenciar essas características fica limitada.
Até 2022-23, as melhores épocas do português, apoiando-nos na estatística, foram 2015-16 (50 jogos, 12 golos e 9 assistências), 2018-19 (44, 21 e 2) e a época transacta, 2021-22 (45, 12 e 17). Aos 29 anos, está no auge, definitivamente a empregar consistência ao seu jogo e a explorar todo o talento disponível.
Se Roger Schmidt ainda o remeteu para o lado esquerdo do ataque, como um dia fez Bruno Lage com bons resultados, cedo percebeu que não estaria a aproveitar completamente as suas qualidades – assim como as de João Mário, sem o instinto para ser o 9,5 de serviço – procedendo á troca. Ganharam os dois jogadores, ganhou o SL Benfica e 13 jogos, 13 vitórias.
Jorge Jesus já tinha dado o mote e seguido a deixa de treinadores anteriores. É em zona central que Rafa consegue mais facilmente explodir no assalto á área adversária. O 3-4-3 de 2021-22, foi, até ao despedimento do treinador em Dezembro, um sistema elástico por causa dos intérpretes.
O 3-0 ao Barcelona é construído com o trio Rafa-Yaremchuk-Darwin na frente, com Rafa a ser o alvo na saída rápida – o 3-4-3 facilmente se tornava 3-5-2, com o português a receber de forma prioritária, como um ‘10’, e Darwin a explorar a meia-esquerda.
A fórmula tinha sido experimentada pela primeira vez em Agosto, no jogo em Moscovo frente ao Spartak e até Novembro, altura em que o trio se manteve nas primeiras escolhas em detrimento de Everton, Gonçalo Ramos ou Pizzi. Foi essa dinâmica que possibilitou a passagem à fase seguinte da Liga dos Campeões e a boa sequência no campeonato até á derrocada no final de Dezembro.
Nelson Veríssimo chegou e chamou de volta o 4-4-2, remetendo Rafa ao papel simplista de velocista pela berma. Um erro, falta de visão futebolística, mas perceptível pela prioridade máxima de proteger o conjunto – a ideia foi blindar o coletivo, simplificando processos. Rafa e o seu futebol sentiram a mudança e regressaram á mediania.

2015/2016
Paulo Fonseca suportou o seu sucesso em Braga no 4-2-2-2, com dois playmakers que tornavam a clássica linha intermédia de quatro em algo muito mais compacto, preenchendo a zona central e libertando os alas de serviço, Baiano á direita e Marcelo Goiano á esquerda.
Rafa e Josué eram esses elementos de ligação que jogavam de pés trocados e alimentavam a dupla de pontas-de-lança, o que resultava num futebol de muito toque que deu direito a uma Taça de Portugal, ganha exemplarmente ao FC Porto.
A afirmação a nível nacional valeu-lhe lugar na comitiva que acabaria por ganhar o Euro 2016 e o protagonismo na maior transferência de sempre entre clubes portugueses – 16 milhões desembolsou por ele o Benfica.
Na Luz encontraria concorrência de nível, o que lhe impediu destaque imediato. Salvio, Cervi e Gonçalo Guedes como opções preferenciais, Zivkovic e Carrillo faziam-lhe companhia no banco de suplentes – e por aqui dá também para ver o decréscimo de qualidade sofrido pela equipa ao longo das temporadas – e Jonas como estrela principal do conjunto, junto a Pizzi.
Rafa era figura secundária e sempre como ala – nunca houve dúvidas acerca do seu talento, faltava-lhe a continuidade que só encontrou dois anos depois, com Bruno Lage.

2018/2019
A época começa aos solavancos ainda no 4-3-3 trazido de 2017-18 por Rui Vitória, o que implicava que Rafa fosse obrigatoriamente homem de corredor. Se a eficácia do sistema tinha caído a pique com a lesão de Krovinovic – um dos grandes motivos para a perda dum possível pentacampeonato –, a forma magistral como Gedson iniciou aquela temporada foi disfarçando a caducidade do formato.
Em Dezembro o treinador português era despedido, Bruno Lage ascendia á primeira equipa: a sua primeira decisão é o regresso ao 4-4-2 e o amor incondicional por João Félix como trequartista do conjunto, em crónica associação criativa com Rafa e Pizzi, que no papel eram homens de linha mas que no relvado apareciam continuamente em zona central, aproveitando nas entrelinhas qualquer nesga de espaço para gerar golo.
Rafa explodiu nesse papel, com 21 golos, 17 só no campeonato, o que lhe valeu terceiro lugar no Bola de Prata. 12 deles a partir de Janeiro, nos 15 jogos realizados sob batuta de Lage.

2021/2022
A total afirmação internacional de Rafael Silva surge ás custas duma boa decisão de Jorge Jesus – nem tudo foi mau no seu segundo reinado – quando ofereceu ao português a batuta do seu jogo focado no contra-golpe.
Rafa assumiu perfeitamente o papel, imiscuiu-se com colegas do mesmo quilate, foi o eixo perfeito entre um meio-campo de posse – Weigl e João Mário – e um ataque panzer com dois verdadeiros atletas – Darwin e Yarem. Rafa, que reúne as duas vertentes no seu futebol, foi o eixo nesse futebol pragmático, venenoso, de vertigem assim que se percebia uma fragilidade momentânea do adversário.
Desta forma consegue sete golos e 12 (!!) assistências nos 15 jogos para o campeonato com Jorge Jesus, um registo doutra dimensão principalmente se compararmos com o que conseguiu depois, na segunda parte da época, nos 14 jogos com Veríssimo: um golo e três passes para finalização quando voltou a ter que se assumir como um simples extremo…

Aquando dos primeiros jogos de Roger Schmidt, percebe-se a intenção de continuar a percepcionar Rafa como homem que partia da linha, seguindo o rigor antecedente de remeter jogadores á sua posição de origem sem grandes variantes.
A pré-época segue com João Mário atrás de Ramos e Rafa a derivar da esquerda – e assim se mantém até ao jogo com o Casa Pia, da 2ª jornada, no qual Schmidt assume definitivamente a troca, com Rafa a iniciar desde o primeiro apito em zona central. Pode-se dizer que o peso da decisão se notou na exibição do internacional português, pelo menos durante os primeiros instantes duma partida muito complicada para o Benfica.
Recompôs-se após o intervalo, é ele que assiste o golo de Ramos e dá alguma chama a uma exibição cinzenta da equipa. A partir daí, Rafa parte definitivamente para o grande inicio de época que está a realizar. Com o Dínamo Kiev, um golo e duas grandes exibições no novo papel, terminando a qualificação com o estatuto reforçadíssimo dentro do balneário e junto da massa adepta.
A sua importância no processo cresceu exponencialmente, replicando a responsabilidade que Jesus lhe tivera atribuído há um ano: como jogador alvo na transição rápida, principal transportador da equipa.
Contra o Arouca, terminaria com 14 passes aproximativos recebidos. Contra o Maccabi, 13. Em Turim, no jogo da época até ao momento, 14.
É ele o farol de todo o conjunto no momento de almejar as redes contrárias. Está tão confiante nas suas próprias capacidades e tão entrosado com as ideias do técnico que conseguiu, até ao momento, suplantar os índices de vários capítulos do rendimento fabuloso fabricado em 2018-19.
Remata mais (2,7 remates por jogo, enquanto fez média de 2,3 há quatro anos), assiste mais (2,9 contra 1,9) e é mais eficaz no drible (66% > 61%) – tudo isto proporcionado por uma menor responsabilidade nas tarefas defensivas (0,7 acções desse género contra 2,1 por jogo), que só um reajuste na posição pôde proporcionar.
Schmidt acertou na mouche e está a conseguir espremer o máximo do talento do jogador, restando perceber que registo estatístico assinará Rafa para traduzir tanto futebol produzido. Será mais goleador que nessa temporada (21) ou mais assistente que no ano passado (17)? Falamos no final da época."

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