"Um dos traços característicos da nossa sociedade contemporânea tem a ver com o lugar de destaque que é dado ao desporto no nosso quotidiano. Ele faz parte do conjunto das formas de viver, de sentir, de agir e de pensar de um grupo importante de cidadãos. É um compromisso e/ou investimento corporal, fenómeno capaz de entusiasmar as multidões ou de as fazer frustrar, vitrina institucional ou política, lugar de transacções financeiras desmedidas, fonte de conflitos e de derrapagens, etc. Assim sendo, podemos falar de uma cultura desportiva como uma “ferramenta” de afirmação colectiva.
A nível mundial, a difusão do desporto é favorecida pelas diversas redes que participam para a expansão do comércio e da acumulação de capital a partir de 1782. No final do século XIX e no início do século XX, a cultura desportiva, com os seus valores e usos sociais, expande-se em toda a Europa, e para além desta, a partir do berço da Revolução Industrial, a Grã-Bretanha.
O capitalismo acentuou a comercialização do desporto e deu-lhe uma legitimidade social. Num mundo movido a dinheiro, dificilmente se concebe que ele escape a esta tendência geral. O casamento entre o desporto e o dinheiro complexificou-se e transformou a imagem das estruturas económicas e sociais. As grandes competições desportivas são objecto de apostas colossais na Internet. Na obra “Sport: l’imposture absolue” (2014), Michel Caillet refere que “num deserto ideológico que atravessa a sociedade moderna, o frenesim desportivo exerce uma função compensadora evidente” (p. 141). Para o autor, “os defensores de um desporto-progresso, popular e humanista, promovem um combate interessante, corajoso, mas patético, na medida em que não se pode colher as rosas sem os espinhos” (p. 169). Não comungamos de um quadro tão pessimista, na medida em que o desporto é uma visão do Homem, da sua finalidade de acção e de liberdade."
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