"Como bom Benfiquista que sou, não gosto nada do FC Porto. Mas mesmo nada. Mas mesmo, mesmo nada. Mas mesmo, mesmo, mesmo...bom, já passei a mensagem. Só que numa coisa eu tenho que os elogiar: são fortíssimos na comunicação. Seja na imprensa, seja nas redes sociais têm sempre diversos elementos a trabalharem para passar a mensagem (alguns chamariam de cartilha) que mais lhes convém. E a pintar a realidade de azul e branco. Uma das vertentes passa por desvalorizar e achincalhar tudo o que é vermelho. Para eles, o Benfica nunca ganha nada com mérito. Campeões em 2005? Estorilgate. Campeões em 2010? Campeonato do túnel. Campeões em 2014? Aqui a superioridade foi tal que nem se atreveram. Campeões em 2015? Já não me lembro, algo terá havido. Campeões em 2016? Campeonato da mala. Campeões em 2017? A culpa é do Benfica. Campeões em 2019? Campeonato do polvo.
Referi 7 campeonatos do Benfica. E os outros 30? Não há mérito também! Porque muitos foram conquistados antes do 25 de Abril de 1974. E eles já decidiram que o Benfica era o "clube do regime". Pouco interessa que o Benfica tenha sido censurado por ser os "vermelhos" ou ter como hino "Avante p'lo Benfica". Pouco importa que o FC Porto tenha inaugurado o seu estádio num 28 de Maio, em homenagem ao regime, e o Benfica a 1 de Dezembro, em homenagem à restauração da independência. Pouco importa que o Benfica tenha sido o único clube a manter eleições livres e democráticas. Pouco interessa que a FPF tenha obrigado o clube a jogar uma eliminatória da Taça de Portugal no dia a seguir à final da Taça dos Campeões Europeus de 1961. Pouco importa que a Selecção Nacional só tenha jogado pela primeira vez no Estádio da Luz em 1971. Pouco importa que o Benfica tenha tido presidentes comunistas e jogadores membros da resistência em Moçambique. Pouco importa que tirando a história desvirtuada de Inocêncio Calabote (num ano em que foram campeões), pouco mais tenham para apresentar. Pouco importa que o Benfica fosse o clube do coração da maioria dos Portugueses, na Europa ou em África.
A mensagem que tem que ser passada é que o Benfica ganhava muito antes de 1974, porque era apoiado pela ditadura e pouco ganhou depois, já que deixou de ter o apoio da mesma. Porque de outra maneira, como explicariam o embaraço do tal clube que está "a vencer desde 1893", ter chegado a 1983 com apenas 7 campeonatos? Então a realidade alternativa é criada: eles pouco venciam antes porque eram vítimas do sistema e muito ganharam entretanto porque são os "campeões da democracia". E porque são os campeões da democracia? Porque neste período venceram mais que os outros. Ou melhor, porque venceram mais que o Benfica. O que é verdade. Mas vendo os números a diferença não é tão significativa como tentam vender. Desde 1974 o FC Porto venceu 23 campeonatos. O Benfica 17. O FC Porto venceu 13 Taça de Portugal, o Benfica 11. E quanto às outras menores competições, se o FC Porto venceu 21 Supertaças e o Benfica apenas 8, o Benfica venceu 7 Taças da Liga e o FC Porto 0. Imagine-se o seguinte: da mesma maneira que o Benfica venceu 5 dos últimos 6 campeonatos, que vencerá 7 dos próximos 10 campeonatos. E que o Sporting ganha os outros 3 (ok, admito que esta é a parte mais difícil de imaginar). Ficaria o Benfica com 24 campeonatos no pós-25 de Abril e o FC Porto 23. Ou seja, passaria o Benfica a ser em 2030 o "campeão da democracia"? E ruiria assim toda a conversa do Benfica sofrer com a liberdade? Querem mesmo continuar dependentes dessa linha imaginária para a contagem de títulos? É que poderá vir um dia a mordê-los onde menos esperam (repito, a diferença já só é de 6 campeonatos)...
É que desmistifique-se outra lenda: o Benfica não parou de vencer em 25 de Abril de 1974. Sabem qual era a média de campeonatos do clube encarnado no fim da temporada 1973/74? 50%. Ou seja, o clube tinha tantos campeonatos como os outros clubes juntos. E 20 anos depois, em 1994 qual era a média? Adivinhem. Sim, 50%. Nos 20 anos seguintes ao 25 de Abril o Benfica continuou a vencer exactamente ao mesmo ritmo que antes. Depois sim, o clube caiu. E caiu porque havia eleições de 4 em 4 anos no país? Porque os jornais podiam escrever sem censura? Não. Caiu porque houve investimento desmedido nos anos 80. Porque houve Manuel Damásio. Porque houve Artur Jorge. Porque houve Vale e Azevedo. Nada a ver com a revolução dos cravos. O clube caiu porque os sócios escolheram maus presidentes, que por sua vez escolheram maus treinadores, que por sua vez escolheram maus jogadores. E quinze anos levou o clube a recuperar o seu lugar, mas já por lá andamos outra vez com regularidade.
E porque ganhou tanto o FC Porto? Porque nas ruas se pode criticar livremente o governo? Porque quem é da oposição já não vai para o Tarrafal? Não, o FC Porto muito ganhou porque apareceu José Maria Pedroto. Porque apareceu Pinto da Costa. Porque apareceu Futre. Porque apareceu Jardel. E sim, hão-de haver razões sociológicas: o país evoluiu no pós-25 de Abril, descentralizou-se e outras regiões do país, que não Lisboa, cresceram económica e futebolísticamente (tanto que actualmente a Liga de Clubes está sediada no Porto e 90% do campeonato é disputado no norte do país).
O 25 de Abril é uma data demasiado bonita para cair em clubismos. Para ser instrumentalizada por um clube que quer reescrever a História como lhe convém. 25 de Abril é para todos. Para os vermelhos, para os azuis, para os verdes, para todas as cores. Para todos os Portugueses.
Ps: Curiosamente, quem passa sempre pelos pingos da chuva neste ridículo debate é o Sporting. Que pós-25 de Abril só venceu 4 campeonatos. Num total de 18. Sim, 18. Já chega de reescrever a História."
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