"Com a precisão que o caracterizava, Mark Twain afirmou que "os factos são teimosos, mas as estatísticas flexíveis". A máxima pode bem vir a revelar-se para caracterizar a temporada futebolística 2018/19: a crer nas estatísticas, o Benfica campeão era uma impossibilidade. Pelo que é mesmo avisado a esperar pelo ponto em falta para cantar vitória.
No final de 2018, todos nós, benfiquistas, nos recordamos que a equipa estava futebolísticamente moribunda e movida a iluminações. A desorientação em campo prolongava-se fora dele, com hesitações incompreensíveis e espectros de regressos fantasmagóricos. No dia 6 de Janeiro, aquando da recepção ao Rio Ave, realisticamente, o máximo que o Benfica podia ambicionar era preparar com tempo a próxima temporada. Afinal, na história do campeonato, apenas por cinco vezes uma equipa vinda de uma chicotada psicológica se havia sagrado campeã. E, destas vezes, três são bem distantes no tempo (o Porto em 58/59: o Sporting 61/62 e o Benfica 67/68). Aliás, nos últimos cinquenta anos, apenas o Sporting logrou alcançar o título depois de mudar de treinador (em 79/80 e, mais recentemente em 99/200). Mais, em todos estes casos, as alterações técnicas ocorreram sempre até final de Outubro. Com mudanças posteriores, ninguém venceu campeonatos. Para tornar o cenário mais improvável, nunca o Benfica tinha recuperado sete pontos de desvantagem face ao Porto.
Depois, com Bruno Lage, já o sabemos, o Benfica mudou o sistema de jogo, as dinâmicas alteraram-se radicalmente e uma combinação de jovens da formação e jogadores proscritos tornou possível que o Benfica, sem reforços, passasse a jogar outro futebol, com outro onze. Foi então que, de forma notável, o Benfica começou a derrotar as estatísticas. Com uma segunda volta muito exigente, o Glorioso venceu fora as sete equipas que se seguem na tabela, acumulando 17 vitórias em 18 jogos. Aliás, é preciso recuar a 62/63 para encontrar uma segunda volta como a deste ano. Tudo isto com um futebol exuberante. Se marcar na próxima jornada, o Benfica 18/19 junta-se ao de duas outras temporadas nas quais superou a barreira dos 100 golos (a de 63/64, com 103, e a de 72/73, com 101). Neste momento, temos uma média exacta de três golos por jogo (contando apenas os jogos com Lage são 3,78).
As estatísticas são flexíveis e existem para serem contrariadas, mas, tendo em conta o que indiciam, o Benfica campeão 18/19 é mesmo uma improbabilidade."
Pedro Adão e Silva, in Record
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