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terça-feira, 27 de novembro de 2018

Vergonha alheia

"Como é que um futebol tão fascinante como o argentino se pode tornar tão autodestrutivo?

Os adeptos argentinos são especiais.
Se há coisa que torna o futebol do país notável, para além dos bons valores que de vez em quando revela (mas nem mais nem menos do que o Brasil, por exemplo), é a paixão dos adeptos. O entusiasmo, a emoção, o arrebatamento que entregam ao jogo é verdadeiramente admirável.
É isso que o torna diferente de tudo: único e irrepetível.
Os últimos dias deram-nos nesse sentido uma mão cheia de bons exemplos. As imagens da Bombonera completamente lotada para o último treino do Boca Juniors, por exemplo, foram impressionantes. Tal como o foram as imagens de milhares de adeptos a apoiar a saída das duas equipas antes do jogo que devia ter-se realizado no último sábado. Mágico, fascinante, electrizante.
A fronteira entre o entusiasmo e a loucura é, porém, demasiado ténue. Sobretudo na Argentina.
O River Plate-Boca Juniors tinha tudo para ser um dos maiores jogos da história do futebol. Dois rivais militantes. Duas massas adeptas apaixonadas. Um troféu grande. Um jogo inédito.
O mundo inteiro estava a olhar para a Argentina, e o que ela fez? Libertou o banditismo que há em alguns adeptos e cometeu uma série de crimes. Deixou vários jogadores em pânico, enviou dois para o hospital, provocou um susto de morte num autocarro inteiro e envergonhou o mundo.
Nesta altura todos nós, que amamos o futebol, sentimos um pouco de vergonha: vergonha alheia. Aquele jogo estava destinado a entrar na história. Na nossa história, na história que um dia queremos contar aos nossos netos. O que fizeram com ele foi uma afronta e um insulto.
Uma humilhação.
É claro que há questões mais sérias que merecem uma análise. É incompreensível como o futebol permitiu que os criminosos encontrassem nele campo fértil para desenvolverem a sua actividade. Não apenas na Argentina: em vários países, de vários continentes.
Mas isto é uma conversa para outros artigos.
Importante aqui é destacar o constrangimento, a aflição, a vergonha que a Argentina foi capaz de provocar. Incompreensível como um futebol tão fascinante se pode tornar tão autodestrutivo.
Entre todas as imagens angustiantes do último sábado, aliás, há uma que não me sai da cabeça: uma mãe a colar foguetes de fumo na barriga de um filho para ludibriar a segurança do estádio.
Insano e perturbador."

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