"Koweit – O escritor brasileiro Lúcio Cardozo sobressaltou-se no dia em que fez 40 anos: “Não sei como isto foi acontecer. Logo a mim, que tenho um talento tão grande para ser criança!”
Há 20 anos, o Toni estava no Dubai e eu estava lá com ele. Salvo erro, precisamente por esta altura. Era colaborador do Carlos Queiroz na selecção dos Emirados. Estavam também o Costa, e o Meszaros, e o Rolão Preto, e o Catoja, que nunca largava a viola.
Não sei se é por causa da bola (há lá algo mais infantil do que uma bola?!), mas a gente, quando se junta, tem um certo talento para ser criança. Crianças com histórias e com memórias. Não se pode dizer que a tarefa dos responsáveis pela selecção dos Emirados fosse muito exigente na altura. Períodos de estágio e observação de jogadores. Poucos: a qualidade não abundava. Uma viagem a Abu Dhabi para ver um jogo, outra um pouco mais longe, na fronteira do Omã, a Al Ain, onde o Nelo Vingada e o António Simões treinavam o clube.
O Carlos e o Toni eram vizinhos, num prédio na zona de Deira, janelas largas para um mar infinito. Dávamos uns passeios de barco, para lá de Jumeirah, até àquele lugar em que o edifício em forma de vela de Burj El Arab se ergue num perfil sem igual. Depois, em casa, eles discutiam pagamentos em atraso. Sentados no sofá, faziam contas dos meses que a federação lhes devia. Estava um dia de sol que estalava as vidraças, tínhamos combinado ir à praia, privada, claro, a exigir cartão de sócio. A Manuela, mulher do Toni, atenta ao que diziam, olhava o azul das águas do Golfo. Depois, pôs fim ao debate: “Mas vocês querem receber a que propósito se não fazem nada?”
Passava da meia-noite em Salmiya, no 12.o andar do Toni aqui no Koweit. Esperávamos pelo River Plate-Boca Juniors que não existiu. E desfiávamos lembranças pela madrugada com a sensação de que os anos passam tão depressa e as horas tão devagar..."
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