"No dia 27 de Setembro a Comissão Mulheres e Desporto do Comité Olímpico de Portugal levou a cabo um Seminário sob o tema “Desenvolvimento de Competências de Liderança no Desporto”, para o qual foram convidadas várias individualidades relacionadas com esta temática.
Pretendeu-se com esta acção proporcionar um momento de reflexão sobre as qualidades necessárias assim como os motivos que mantêm afastadas as mulheres dos cargos de liderança no desporto, já que estas, em Portugal, não ultrapassam os 12,5 % (IPDJ, 2016), um dos valores mais baixos da Europa.
Maria José Carvalho, professora da FADEUP, fez-nos pensar que errámos na escolha do tema já que, segundo ela, a tónica deveria ser posta não na diferença de liderança entre homens e mulheres mas na não existência de liderança no feminino. Referiu que, neste aspecto, nada mudou nos últimos vinte anos e chamou a atenção para a tão necessária implantação de medidas capazes de gerar mudanças.
Paula Silva, professora da mesma Universidade, veio corroborar esta ideia ao referir que a crença de que está tudo feito é o maior obstáculo para a igualdade de género. É um facto que os Direitos das Mulheres estão consagrados na Constituição mas tal não significa, afinal, que a igualdade de oportunidades seja sinónimo de igualdade de género. Segunda ela, há todo um conjunto de micro-discriminações, imperceptíveis mas presentes no nosso dia-a-dia que têm um forte impacto na vida das pessoas. Ou seja, as oportunidades existem mas existe também aquilo a que a professora Margarida Gaspar de Matos chamou “tecto de vidro”, a tal limitação invisível que impede as mulheres de usufruírem dessas oportunidades.
Dina Pedro, tendo por base a sua experiência de treinadora e Seleccionadora Nacional de Muaythai, declarou reconhecer nas mulheres os traços necessários à liderança. Afirmou que, entre os mais jovens, as raparigas são frequentemente escolhidas, mesmo pelos rapazes, para serem líderes de grupo mas que, ao longo da vida, algo acontecia que as afastava da liderança.
Ora, quanto a nós, para se exercerem cargos de liderança no desporto é necessário conhecer a modalidade, o que eventualmente pressupõe tê-la praticado… mas, entre os vários praticantes desportivos em Portugal, apenas 28,5 % são do sexo feminino. Para compreender este número há que ter claro que o género é dotado por uma forte componente cultural e, na nossa sociedade, o desporto rege-se por uma particular forma de dominação masculina. Não se espera que as mulheres o pratiquem e desta expectativa resulta uma actuação de censura generalizada por parte da sociedade, na maior parte das vezes de uma forma inconsciente, que desenvolve nas raparigas uma sensação de insegurança na ocupação de um lugar no mundo do desporto que consideram, desde cedo, não ser o seu. Por exemplo, aos meninos incentiva-se a actividade e o vigor físico, a agilidade… a uma menina que demonstre propensão para tal diz-
se: “Não sejas Maria-Rapaz!” ou “Porta-te como uma menina!”, vedando-lhe a possibilidade de ver no desporto uma opção.
Assim, para que se gere a mudança, é fundamental que cada um de nós dê o seu contributo, desenvolvendo um processo de auto-observação e uma análise critica dotada de alguma sensibilidade para as questões do género. É importante que cada um se interrogue se a sua forma de actuar é susceptível de inibir as meninas de se envolverem na pratica desportiva e de virem a demonstrar o seu potencial. Esta tomada de consciência é o “pontapé” de saída para a igualdade de género no desporto."
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