"No ponto mais alto de Moscovo, a Colina dos Pardais, dezenas de pessoas juntam-se para assistir ao fogo- -de-artifício do Dia da Independência (assinalado pelos russos a 12 de Junho). Dois jovens chegam vestidos com as cores da selecção russa, T-shirt e chapéu. Visivelmente animados. E não é por causa dos gelados que trazem nas mãos. Já meio a derreter. Um deles chama a atenção da multidão e explica que quer gravar um vídeo para a filha, que fez anos quinta-feira, no dia em que começou o Mundial de Futebol na Rússia. A pequena Vitoria ficou em casa. Na Sibéria. Ele pede que todos gritem parabéns e em seguida o nome dela. Pensamos que ninguém vai aderir. Os russos não são, em geral, muito abertos. Muitos não falam inglês. Por isso mesmo, quando num dos guichés do metro lemos we speak english temos quase a sensação de estar a ver um oásis no deserto. Mas a verdade é que todos gritaram parabéns, Vitoria, para o vídeo. E ainda aplaudiram. Sorrindo.
Em seguida os dois jovens põem-se a tocar uma viola e a cantar. "São músicas de uns desenhos animados soviéticos", traduz-nos um amigo português a viver há muito na Rússia. É este o espírito do Mundial. As pessoas passam umas pelas outras na rua com as camisolas das suas selecções vestidas. Vêm de todas as partes. Falam-se. Não se conhecem. Mas falam-se. O futebol é a sua linguagem. E é universal. A lotação é esgotada, não só em Moscovo.
Em São Petersburgo, a multidão que vagueia pelas ruas aumenta a olhos vistos à medida que se aproxima o Mundial. Na capital russa está tudo esgotado. Para o bailado La Bayadère no Teatro Bolshoi já não há bilhetes online e à porta no mercado negro os preços chegam aos quatro mil dólares. Para visitar o Kremlin, na internet também diz esgotado nas próximas duas semanas. Mas os persistentes e resistentes que acordam cedo e vão para a fila ainda conseguem os últimos bilhetes disponíveis para o dia. Há de tudo. Mexicanos. Marroquinos. Australianos. Iranianos. Finlandeses. Paraguaios. Espanhóis. Brasileiros.
Às vezes, quando uns conversam, outros ficam atentos, calados, a tentar perceber as origens de uns e de outros. O português parece confundir alguns. Menos os do Brasil. À nossa frente um grupo de três amigos do Rio de Janeiro. Duas raparigas e um rapaz. Eles contam-nos como viram na noite anterior as magníficas bailarinas do Bolshoi. "Não há igual em mais lado nenhum." Ficamos ainda com mais curiosidade. Mais tarde tentaríamos obter ingressos para o bailado. Nada feito. Do nosso lado, eu e as minhas amigas portuguesas damos sugestões sobre São Petersburgo. Para a troca.
Enquanto esperamos, uma das brasileiras, Cecília, recebe pelo WhatsApp o bolão da sua família sobre o resultado de alguns jogos do Mundial. "Foi minha mãe que enviou... Alguém apostou no resultado 2-1 para o jogo entre Espanha e Portugal em Sochi. Rapidamente lembramos que os portugueses têm o Cristiano Ronaldo e que se calhar querem rever melhor essa bolsa de apostas. "Tem razão. Vou apostar 2-1. Mas ganha Portugal."
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