"Para as gerações mais novas deve ser difícil imaginá-lo, mas houve uma altura em que o Mundial acontecia mesmo sem a selecção nacional.
Entre 1966 e 2002 aconteceram oito fases finais e Portugal só esteve presente em uma: aconteceu no 1986, numa triste participação no México.
Feitas as contas, portanto, foram dois períodos de vinte e dezasseis anos, respectivamente, em que a selecção portuguesa não esteve. Impensável nos dias de hoje, não é?
O mais curioso é que havia Mundial na mesma.
A minha geração aprendeu a apreciar os Mundiais sem Portugal: e habituou-se a amar este mês em que todos os dias são domingo, como escreveu Valdano, mesmo sem ouvir a Portuguesa ou sem chorar pela nossa bandeira. Era assim que as coisas aconteciam, e valia a pena na mesma.
Eu, por exemplo, não me esqueço do Mundial 86. Do entusiasmo com o golo de Carlos Manuel à Inglaterra, claro, mas sobretudo de Maradona a levar a Argentina às costas até o triunfo final.
Um Mundial mudou até a minha vida.
Tinha tudo planeado para me licenciar em Direito, na Universidade Católica, entrando naquilo que se chamava o ano zero: uma época que substituía o 12º ano. Inscrevi-me nos exames, enfim, fiz tudo direitinho. Infelizmente os exames do ano zero da Católica coincidiam com o mês de Junho, estávamos em 1994, ano de Mundial nos Estados Unidos. Por isso nunca apareci nas provas.
Podia ser hoje um respeitável advogado, em vez de andar para aqui na Rússia a escrever textos.
Mas enfim, as coisas são como têm de ser, e há uma coisa da qual não me arrependo: de ter vibrado com todos os Mundiais.
Um Campeonato do Mundo é a face mais bonita do futebol: é a festa, o entusiasmo, a loucura. São 32 países e milhares de adeptos, a encher de euforia e de cor os melhores estádios do mundo.
Ora por falar em cor, importa dizer que um Mundial é muito isso: as cores.
Cores da festa, claro, mas cores também de cada país: lutar pelos nossos tons, sejam eles mais escuros, ou mais claros, mais cinzentos ou mais vivos. As cores da bandeira, as cores do equipamento, as cores da nossa gente. As verdadeiras cores de cada um.
Mostrem de que cor são feitos.
"
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