"O noticiário televisivo havia-se iniciado com a dramática situação decorrente dos fogos. Estavam a passar imagens da evacuação dos doentes de um hospital. Eis, que, subitamente, a jornalista de serviço diz que esta reportagem seria interrompida porque «se impõe» (foi este o verbo!) um directo para Alcochete onde Leonardo Jardim estava a iniciar a conferência de imprensa pré-jogo.
Para além do insólito da interrupção, o que este caso evidencia é o inqualificável critério de prioridades noticiosas. Gosto muito de futebol. Mas abomino o exagero e a fantasia oca à volta dos jogos.
Calhou desta vez ao treinador do Sporting, como de outras vezes calha ao do Benfica, do Porto, do Braga, de Paulo Bento, ou a uma banalidade com ar científico de Mourinho transmitida ad mauseam. A oferta é exaustiva: directos a toda a hora e repetição seleccionada mas extensa em todos os noticiários. Mais do que qualquer outro assunto para o qual sempre se coloca a escassez do tempo que sobra do futebol.
Na larga maioria destes briefings - agora tontamente copiados na política - o que vemos e ouvimos? Simplesmente nada. Um amontoado de frases feitas, umas perguntas de micro-ondas, uns tiques de falar sem dizer, uma perda total de tempo. Se, eventualmente, há uma pergunta interessante e que possa dar aso a uma verdadeira notícia, a resposta - com ar mais enfastiado ou mais descontraído - é sempre uma de duas: 'não respondo' ou 'a pergunta está fora do tema de hoje'.
Sei da ditadura das audiências. Mas não me curvo perante a banalização intragável da banalidade. Se tivesse poderes num clube, acabava com essa charla pré-jogos."
Bagão Félix, in A Bola
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