"Fernando Martins é o primeiro presidente do Benfica de que, efectivamente, me recordo. Foi o homem que presidiu o Benfica durante grande parte da minha adolescência. Durante aquela época em que começamos a ganhar consciência e sentido crítico.
A imagem que guardo de Fernando Martins é a de um presidente determinado, um homem que liderava de acordo com as suas convicções e de poucas cedências ao caminho mais fácil, mais popular e mais óbvio. Recordo que durante o seu mandato saiu o Chalana para o Bordéus e os benfiquistas gritaram “aqui d’el Rei” que isto não pode ser. Recordo que, além do Chalana, o Filipovic e o João Alves também saíram e que se dizia à boca cheia que o nosso Benfica precisava de jogadores e não de sacos de cimento para fechar o mítico Terceiro Anel. É impossível esquecer o quão ofendido foi Fernando Martins depois do famosos 7-1 de Alvalade. Já depois de ter terminado o consulado, Fernando Martins continuou a ser criticado por dar a mão a gente que tudo fazia para, à margem da lei, derrotar o Benfica. Da mesma forma que é impossível não recordar que Fernando Martins fazia questão de lembrar aos benfiquistas, que o criticavam no calor da paixão e da emoção imediata, que era importante não ser míope e perceber que os jogadores passam e a obra fica. Da mesma forma que recordo a lição que nos dava quando dizia que preferia abdicar de um jogador “vedeta” do que assumir compromissos individuais que, para serem cumpridos, comprometeriam o bem comum. Da mesma forma que, até ao fim, se mostrou intransigente na escolha das suas companhias, independentemente de serem mais ou menos agradáveis à opinião pública benfiquista.
Ou seja, o que Fernando Martins nos deixou como herança foi o testemunho de que quem lidera o deve fazer de acordo com as suas convicções e nunca ao sabor dos ventos e das paixões de momento. Se assim não fosse, não teria deixado obra feita, não teria deixado a vincada marca que deixou no nosso Benfica e à qual ninguém pode ser indiferente."
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