"Não tive a felicidade de me legarem o amor que nutro pelo SLB, mas há uma coisa importante a reter. Cada pessoa é uma pessoa. E, perante factos, ou perante a realidade que a história irá fazer, jamais poderia optar por uma escolha onde imperasse a batota, a trapaça, a corrupção, a marginalidade, a ameaça e a agressão física e verbal, sempre pela cabala da noite.
Nasceram assim, vão viver assim e morrerão com o SLB atravessado nas goelas, cujos dentes cariados os tomam ainda mais selváticos e boçais, quando aquelas bocarras lançam mugidos lancinantes de ódio visceral que lhes vem do mais profundo da pança, após uma digestão mal acabada das ervas secas ou da palha ingerida após uma, mais uma, conquista, de um roubo qualquer. Há seres que vivem para comer. Outros vivem para roubar. Outros ainda não sabem para que vivem, mas aguardam ordens do chefe da cavalariça, para saberem onde e quem devem atacar, aqueles que lhes podem fazer frente e os podem obrigar a engolir a erva ou a palha já ingerida, e com toda a certeza de pastos pertencentes a outros.
O chefe da cavalariça é já um cavalo bem velho, que tem um grupo de equídeos mais recentes que tratam do pasto onde pela calada da noite vão roubar os alimentos para ingerirem. O cavalo velho tem o hábito de andar com éguas novas, mas já bem rotinadas no que à procriação diz respeito. E como a natureza não se compadece com o tempo, de vez em quando lá vai o cavalo velho à procura de uns póneis, para, e pela calada da noite, lhe darem um pouco de prazer com o vigor da idade dos mesmos. E como relincha o velho cavalo, de seu nome Takiku."
José Alberto Pinheiro, in O Benfica
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