"Estamos a chegar a meio da época e o “ruído” das últimas temporadas está a regressar. Estamos em primeiro e isolados em duas modalidades (Voleibol e Futsal), estamos em primeiro em conjunto com os nossos dois rivais em Basquetebol, no Hóquei estamos em segundo juntamente com Barcelos e Sporting, atrás da Oliveirense e no Andebol já estamos praticamente arredados do Campeonato. A nível Europeu, só o Futsal já saiu das competições europeias. Em suma, a época não tem sido má. Como era de esperar, parecemos ser claros favoritos a ganhar no Voleibol, algo favoritos no Basquetebol, estamos numa corrida a dois no Futsal, somos underdogs no Hóquei e no Andebol não temos hipóteses. Mas também não tem sido perfeita. E isso leva ao “ruído” das últimas temporadas.
O problema das modalidades é a falta de dinheiro e maneira como algum dele é mal aproveitado. Por exemplo, não há um treinador no mundo com o nosso plantel actual no Andebol seja capaz de vencer o Campeonato. O Porto tem um plantel barato mas muito forte, consequência de anos de uma estratégia obscura (parceria exclusiva com a Federação Cubana). O Sporting tem um plantel competitivo em relação ao Porto, mas assente em estrangeiros de grande qualidade que chegam ao Sporting ainda com alguns bons anos pela frente na carreira. Esses estrangeiros custam dinheiro. O Sporting, não só tem mais estrangeiros desse nível, como na globalidade são mais novos ou com menos passado recheado de lesões e como tal rendem mais. Há algum tempo que digo que o Benfica no caso do Andebol não devia estar a investir para ganhar já, mas sim investir para ganhar daqui a dois-três anos. Porque no imediato, só é possível competir com o Porto se gastarmos tanto como o Sporting. Agora da maneira como estamos a fazer, não somos campeões neste ano e dificilmente vamos ser daqui a dois-três anos.
No caso do Futsal ou do Hóquei o problema é mesmo a falta de dinheiro. Reduzimos o orçamento no Futsal este ano ao passar de 7 estrangeiros para 6. Além disso, para a próxima época vamos perder André Coelho para o Barcelona e as baixas de peso podem não ficar por aqui. Não somos competitivos com ninguém a nível financeiro. No Hóquei reduzimos o orçamento em 2016 e nunca mais chegámos a ter uma equipa do nível dessa época (em que ganhámos a Liga Europeia). Parte dos problemas destas modalidades seriam resolvidos se, por exemplo, retirássemos o dinheiro a mais que está a ser mal aproveitado no Andebol e o injectássemos aqui, ou se usássemos parte dos lucros que o clube tem tido nos últimos anos e aumentássemos o orçamento das modalidades.
O Benfica tem tido lucro nos últimos anos. Nas últimas três épocas tivemos mais de 15 milhões de euros em lucros acumulados (no Clube, na SAD tivemos ainda mais). Ou seja, o clube tem manobra financeira mais do que suficiente para injectar uns 500 mil euros extra ou até mais. Mas não o faz. E é aqui que chegamos ao grande problema das modalidades.
O Departamento das Modalidades tem vindo a aumentar os seus gastos. Em 2016/17 gastou cerca de 12 milhões de euros. Nesta temporada está previsto gastar quase 18 milhões de euros. Ao mesmo tempo as receitas do Departamento das Modalidades baixaram de mais de 6 milhões de euros em 16/17 e este ano estão previstas continuar abaixo dos 6 milhões, sendo que desde 16/17 só as receitas de patrocínios têm aumentado significativamente. Receitas vinda de sócios têm diminuído. Ou seja, o Benfica tem vindo a aumentar os seus custos com as modalidades mas, apesar do investimento, não tem gerado mais receitas. Isto acontece porque os adeptos não vão aos pavilhões.
Há quem diga que tudo se deve à fraca qualidade dos plantéis das modalidades. Eu não concordo. Ontem o Benfica teve uma das maiores exibições da sua história no Voleibol e o pavilhão se calhar nem a meio estava. Já no ano passado tivemos jogos das finais dos Campeonatos de Basquetebol e Futsal que não esgotaram. Nem vou falar dos jogos em que não jogamos contra grandes equipas. É um case-study como é que um clube que consegue ter sempre mais de 50 mil a apoiar um jogo de Futebol mas não consegue 1% disso num jogo das modalidades. Os adeptos são simplesmente desinteressados das modalidades. Há uma série de razões que o explicam como:
1. São 5 modalidades, todas elas com equipas femininas e masculinas. É impossível alguém ter um emprego/estudar, ter uma vida social, ter hobbies e seguir 10 equipas de modalidades mais as duas equipas de futebol. O Porto só têm que seguir 3 equipas.
2. O Sucesso do Futebol ofusca uma eventual atenção às modalidades. Os sportinguistas ligam bastante às modalidades porque se não fossem elas, não festejavam nada.
3. Claques Desorganizadas. O facto das nossas claques serem ilegais em alguma maneira afecta isto. São ou podiam ser os maiores motores para atrair adeptos, mas a falta de organização não o permite.
Enquanto os adeptos não começarem a ir ver mais jogos das modalidades, não faz sentido a Direcção injectar mais dinheiro em algo que os adeptos estão a ver menos. Enquanto as modalidades não começarem a receber mais dinheiro (quer por via directa dos adeptos, quer por via indirecta dos adeptos através dos lucros) dificilmente vamos ter vitórias mais consistentes. Na próxima vez que pedirmos a demissão do Carlos Resende ou do Joel Rocha, talvez devêssemos pensar se estamos a fazer tudo o que podemos para garantir que têm as melhores condições para lutar contra os outros. É que o Carlos Resende não tem no seu plantel a qualidade disponível que o Porto ou o Sporting têm. E o Joel Rocha foi eliminado da Liga dos Campeões de Futsal a jogar sem Roncaglio em três jogos e sem Robinho e André Coelho em um jogo cada. Os três são titularíssimos na nossa equipa. Quando assim é, fica difícil apontar seja o que for."
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