"Caras e caros amigos, depois da oportunidade de nos rirmos com o autocarro da última publicação, chega o momento de apelar a uma reflexão mais séria. Num País de limitados recursos, ou mal geridos - tanto faz - com reflexos directos na qualidade e disponibilidade de serviços públicos essenciais, não podemos ter certas ilusões. A primeira é a da autorregeneração das estruturas que governam o futebol. Não vai acontecer, deem isso como certo. Em redor deste fenómeno desportivo frutificam ambições pessoais, interesses de organizações poderosas e não regulamentadas, actividades de elevada rentabilidade, mediatismo, em suma, dinheiro, em quantidade, disponível e distribuível. Ninguém vai partilhar o poder de enriquecer e fazer enriquecer, no topo da hierarquia, de aceder a estatuto e carreira de médio a longo prazo, na zona intermédia, de viver um pouco melhor, na base. É uma criação autárquica que tende à expansão. Sem esta ilusão também não podemos ter outra: a de que alguém vai pôr isto na ordem. Não, dificilmente isso poderá acontecer. Investigar a realidade do futebol e recolher provas para sustentar uma acusação é uma tarefa épica num domínio em que não há espaço para heroísmos. Ou há recursos para fazer o trabalho bem feito, ou ele não aparecerá. Não esperem sentados que alguém consiga revelar, num processo, aquilo que sabemos que existe mas que tarda em tomar forma. Existem deveres morais de agir e nesse escrutínio temos uns mais devedores que outros. Não esperemos que um comum adepto que toma conhecimento de um crime mova por sua conta e risco esforços para que tal seja punível. O mesmo não direi de organizações profissionais financeiramente poderosas cujos interesses vitais são directamente afectados. Mas entre este deve e haver há zonas de ninguém. São as zonas onde a informação corre livre, não filtrada, genuína, baseada na certeza de determinadas ocorrências e na dupla convicção de justificarem algo mais que um encolher de ombros. Até porque esse gesto de alívio rapidamente se transforma num esgar de indignação, ou raiva, por ver acontecer tudo aquilo outra vez: os mesmos erros, as mesmas farsas, os mesmos benefícios, o mesmo sistema. E é aqui, minhas amigas e meus amigos, que podemos ser procuradores em causa própria. Uma página A4 bem escrita com factos e suas evidências remetida para o sítio certo vale mais que horas de retórica e proclamação de valores destinados a ser diluídos em pragmatismo. O mero consumo e difusão de informação programada não chega. É preciso acção inteligente. Se existem voluntários nos hospitais a empurrar macas e a encaminhar doentes para os serviços, porque raio não poderá existir voluntariado em prol de uma verdadeira justiça desportiva. Sem receio, nunca capitulemos! Não é pelo Benfica, é por todos! Não estamos condenados à impunidade que nos escandaliza. Desculpem a prosa adornada e curvilínea. Ela tem vários desígnios: cumprir um dever de acção e apelar à sua réplica; cumprir um dever de lealdade institucional que poucos cumprem, especialmente os media que noticiam temas de justiça. Por uns tempos serei parco em palavras sérias com a esperança de as poder direccionar para o seu máximo aproveitamento. Indignem-se, reclamem, participem, defendam o futebol, o desporto, uma sociedade mais promissora."
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