"A imagem apareceu enquanto os jogadores do Liverpool festejavam com os adeptos aquela reviravolta dos diabos frente ao Barcelona, do 0-3 fora para o 4-3 em casa. Uma tarja, plantada pendurada numa das bancadas de Anfield, onde se lia:
With the drive
And the dreams inside
This is my time
Eu, que já estava ligeiramente (ok, muito) emocionada com aquela 2.ª parte que tinha acabado de ver, com o “You’ll never walk alone” cantado pelas lágrimas de alegria de 50 mil almas, então é que me desmanchei.
Diz-se que “I won’t share you”, de onde esse pedaço de lírica que li na tarja foi retirada, é uma canção de ciúme, o ciúme que Morrissey sentiria de Johnny Marr e que também ajudou a que os The Smiths acabassem - “I won’t share you” é, curiosamente ou não, a derradeira canção do derradeiro álbum de originais da banda, “Strangeways, Here We Come”.
Mas lida assim, sem contexto, ou melhor, naquele contexto épico de 11-mais-3 homens a darem a volta a um 3-0 para chegarem à final da Liga dos Campeões, um par de dias depois de verem a última esperança de se tornarem campeões ingleses a desvanecer-se num remate do meio da rua do capitão do City, nesse contexto, a frase não é uma frase de ciúme, mas sim de força de vontade, de esperança, da ousadia de quem sonha e não acredita no que todos dizem ser impossível (e, não me venham com coisas, vocês também o disseram), mesmo depois de um esforço inglório.
Era o tempo deles, a vez deles, do Liverpool, só vice-campeão da Premier League mesmo com 97 pontos, de Jurgen Klopp e as suas seis finais perdidas, do futebol rock and roll e até de quem manda no clube, que teve a coragem de manter o alemão de óculos engraçados e sentido de humor impagável, mesmo com um 8.º lugar na primeira época e dois 4.º lugares nas que se seguiram. Mesmo com uma final da Taça da Liga perdida, uma final da Liga Europa perdida, mesmo com uma final da Champions perdida.
Os mesmos The Smiths cantaram que “it takes guts to be gentle and kind” e eu também acho que é preciso coragem para, nos dias de hoje, se manter um treinador que demora a ganhar, mesmo que tenha uma ideia de jogo verdadeiramente entusiasmante. E também foi por isso que no sábado torci pelo Liverpool, por Klopp, por Van Dijk e Salah e Mané e Alexander-Arnold e Milner, apesar de também ter muita simpatia pelo Tottenham, por Pochettino, por Eriksen e Alli e Son. Até porque muito do que se aplica ao Liverpool, também se aplica à equipa de Londres.
O jogo, diga-se, foi de uma pobreza franciscana. Achávamos todos que íamos ver um jogo eléctrico, de parada e resposta, com muitas transições, muitos remates e muitos golos, mas calhou-nos 90 minutos de passes falhados, chutão para a frente, ocasionais remates e um resultado desde logo marcado por uma grande penalidade quando ainda estávamos na fila para ir recolher a primeira cerveja da noite. Como se as duas meias-finais épicas que tinham levado Liverpool e Tottenham ao Wanda Metropolitano de Madrid tivessem sugado toda a energia e criatividade às duas equipas, como se o peso daquele título fosse demasiado, numa temporada boa para ambos, mas ainda desprovida de títulos - os títulos não têm per se de validar uma grande época, mas ajudam, sem dúvida.
Ganhou, portanto, o Liverpool, com um golo a abrir e outro a fechar, o primeiro de Salah, o outro de um Origi que ainda há um par de meses estava de malas feitas para um empréstimo triste ao Huddersfield. Klopp cantou, talked about six, foi o rei da festa empoleirado no autocarro que atravessou as ruas vermelhas de Liverpool, que por acaso nem é a cidade natal dos The Smiths, essa fica ali a 50 quilómetros, em Manchester, mas talvez não haja banda em Liverpool (nem sequer “a” banda) que cante as emoções vividas em Anfield como Morrissey e Marr um dia fizeram.
Esta era a vez deles.
O que se passou
Vou começar pelo que se vai passar. Quarta-feira, Portugal recebe a Suíça na final four da primeira edição da Liga das Nações, que terá ainda Inglaterra e Holanda. Os jogos realizam-se em Guimarães e no Porto e convém recordar a certas e determinadas pessoas que são jogos de Portugal e não do Benfica, Sporting, FC Porto, Arrentela ou do Freixo de Espada à Cinta. De Portugal.
De resto, passou-se que Jorge Jesus, depois de um curto mas intenso namoro, foi confirmado como treinador do Flamengo.
Passou-se ainda que a Selecção Nacional sub-20 foi inesperadamente eliminada na fase de grupos do Mundial da categoria, onde era uma das equipas favoritas à vitória.
Passou-se também que o estónio Ott Tanak (Toyota) foi o vencedor do Rali de Portugal e que Miguel Oliveira foi 16.º no GP Itália, mesmo com um dedo partido, após queda no warm up.
Mas a notícia mais trágica da semana foi a morte de José Antonio Reyes, antigo jogador do Benfica, Sevilha, Arsenal, Real Madrid e Atlético Madrid, vítima de um acidente de viação na sua Andaluzia natal. O extremo partiu cedo, com apenas 35 anos."
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