"A época da equipa de andebol do Sport Lisboa e Benfica chegou ao fim, e aguardava esta época com expectativas. Na época passada, apesar de termos completado 10 anos sem ganhar o campeonato, o andebol de qualidade praticado pela equipa, que culminou com a conquista da Taça de Portugal, abria boas perspectivas para o futuro. No final, apesar do início prometedor, a época acabou por redundar num fracasso e levanta muitos pontos de interrogação nesta equipa.
Para esta temporada, os reforços anunciados foram o guarda-redes Borko Ristovski e o ponta-direita Carlos Martins, reforços para duas das posições onde a equipa estava mais carenciada. Quanto à posição de lateral-direito, tudo indicava que Carlos Resende iria dar uma nova oportunidade a Stefan Terzic, apesar deste continuar afastado por tempo indefinido. Já com o campeonato a decorrer, seria anunciado o francês Kévynn Nyokas, que regressava ao activo após ter estado retirado por uma temporada para tratar os seus problemas nos joelhos.
A pré-temporada iniciou com um jogo particular no pavilhão da Luz contra o HBC Nantes, que terminaria com uma vitória a favor da equipa francesa por 29-31. Apesar da derrota, a equipa encarnada tinha mostrado uma boa réplica face aos vice-campeões europeus. A pré-temporada viria a terminar com a equipa de Carlos Resende a conquistar o Torneio Internacional de Viseu.
No primeiro jogo oficial, a equipa viria a conquistar a Supertaça frente ao Sporting CP, com uma vitória categórica por 29-24, num jogo onde a dupla Seabra/Belone esteve imparável no ataque e o reforço mais sonante Borko Ristovski mostrou logo toda a sua qualidade. As expectativas iam ficando maiores, mas toda a gente sabia que numa prova de regularidade as coisas funcionavam de forma diferente.
O Benfica arrancou o campeonato sem grandes sobressaltos, vencendo os seis primeiros jogos, até que na sétima jornada estava agendada uma deslocação ao pavilhão João Rocha para defrontar os bicampeões nacionais. Num jogo em que a nossa equipa chegou a ter quatro golos de vantagem, a arbitragem polémica acabou por inverter o rumo dos acontecimentos, com os leões a venceram por 24-23. Algumas jornadas mais tarde, o Benfica viria a perder em casa do FC Porto por 28-24. A situação não era fácil, mas o campeonato estava longe de estar comprometido.
Pelo meio, a equipa também participou na Taça EHF. Depois de na segunda eliminatória a equipa ter eliminado os islandeses do FH sem grandes dificuldades, na terceira eliminatória acabámos por enfrentar os alemães do TSV Hannover, onde a equipa viria a perder por 41-36 na Alemanha. Seria necessário um Benfica a roçar a perfeição para conseguir a reviravolta na eliminatória, mas o empate que se verificou no final do jogo na Luz não correspondia às aspirações encarnadas. Pela segunda época consecutiva, o Benfica falhava o acesso à Fase de Grupos da Taça EHF.
Até ao final do ano, surgiram outras más notícias para o andebol encarnado. Fora anunciada a transferência do lateral-esquerdo Alexandre Cavalcanti para o HBC Nantes. E num jogo em casa do ISMAI em Dezembro, o central Pedro Seabra fracturou o braço e ficou afastado das quadras durante cerca de três meses.
Na segunda volta da Fase Regular, a equipa do Benfica continuava a correr atrás do prejuízo e seria nos últimos três jogos que poderiam dar uma cambalhota na classificação que podia ser decisiva. Porém, a equipa encarnada sucumbiu em casa contra o FC Porto por 24-26. Três dias depois, recebeu o Sporting CP no mesmo pavilhão e num jogo onde esteve em desvantagem durante grande parte do tempo, a equipa de Carlos Resende acabou por ter uma reacção notável, conseguindo dar a volta ao resultado e selando a vitória com Borko Ristovski a defender um livre de 9 metros cobrado por Carlos Ruesga ao cair do pano.
Esta vitória tinha tudo para ser o ponto de viragem na época de que a equipa precisava, mas no final não passou de sol de pouca dura. Depois da vitória do Sporting CP, a equipa empatou em casa do Belenenses na última jornada da Fase Regular e no jogo seguinte, é eliminado de forma humilhante da Taça de Portugal, ao perder por 23-18 contra um ABC que realizou a sua pior temporada da década.
Restava o campeonato pela frente, mas como uma desgraça nunca vem só, a equipa de Carlos Resende entrou na Fase de Apuramento de Campeão com o pé esquerdo, ao perder em casa do Sporting por 29-22. Depois de duas vitórias suadíssimas contra Belenenses e Águas Santas (ambas por um golo de diferença), o Benfica ficaria arredado do título com uma nova derrota caseira contra o FC Porto por 23-28. E, tão mau como o resultado, foram as declarações polémicas de Carlos Resende após o jogo.
Apesar da vitória contra o Sporting no jogo seguinte, o campeonato já estava feito. Apesar da Vitória no Dragão Caixa (31-34), a equipa do Benfica não foi além de terceiro lugar, terminando uma época que somou desilusão atrás de desilusão. O FC Porto foi um justo campeão. O técnico Magnus Andersson implementou novas ideias e novos métodos de trabalho na equipa azul e branca, o que se traduziu numa equipa com um colectivo forte e bastante trabalhado, superiorizando-se a um Sporting que possuía novamente um plantel de luxo, mas que não tinha um colectivo a altura.
Agora farei aqui uma análise individual a alguns jogadores e a alguns aspectos da equipa do Benfica:
Borko Ristovski – foi a contratação mais sonante do andebol nacional no ano passado. O guarda-redes oriundo do FC Barcelona não tardou em mostrar as suas qualidades, fazendo a diferença desde o primeiro dia, ao realizar uma exibição monstruosa na Supertaça contra o Sporting. Um plantel a altura da dimensão do Benfica precisa de ter um guarda-redes estrangeiro de qualidade indiscutível.
Alexandre Cavalcanti – o jogador mais completo da equipa encarnada. Jogador fundamental nos dois lados do campo, carregou a manobra ofensiva da equipa às costas em muitos jogos, até que uma fractura no pé o afastou da Fase de Apuramento de campeão. Na próxima temporada rá representar o HBC Nantes, um dos “Big 3” do andebol francês. Com apenas 22 anos e a qualidade que tem, era de esperar que mais ano menos ano, desse o salto para uma grande equipa europeia.
Kévynn Nyokas – foi uma contratação surpresa já depois do início da temporada, não estando presente na conquista da supertaça. No auge da sua carreira, este jogador foi titular da selecção francesa, tendo conquistado um Mundial e um Europeu. Porém, duas lesões graves nos joelhos fizeram com que estivesse temporariamente retirado da modalidade para se dedicar exclusivamente à sua recuperação. Regressando ao activo no Benfica, nos seus primeiros meses de águia ao peito rubricou exibições muito inconsistentes, sendo um jogador capaz do melhor e do pior. Alternava golos de belíssima execução, com erros infantis que resultavam em contra-ataques adversários. Já durante a Fase de Apuramento do Campeão seria anunciada a sua renovação de contrato por mais duas temporadas e desde então as suas exibições melhoraram. Daí para a frente, o lateral-direito mostrou que ainda tem muito para dar e verdade seja dita, isso é o mínimo exigível para um jogador do seu calibre nas próximas duas épocas.
Stefan Terzic – com muita pena minha, não vi este jogador ao seu melhor nível. Tinha tudo para ser o melhor jogador a jogar em Portugal. Aquele braço esquerdo podia fazer muitos estragos nas balizas adversárias, mas as lesões não o permitiram e a verdade, é a gestão com pinças que lhe era feita já não compensava.
Primeira linha e pivot – duas posições onde a falta de profundidade foi gritante. Na primeira linha estávamos excessivamente dependentes de Belone Moreira, Pedro Seabra, Cavalcanti e Nuno Grilo, fruto das lesões de Terzic, da inconsistência de Nyokas, sendo que João da Silva e Arthur Patrianova pouco contaram para o treinador depois de recuperarem de lesão. A pivot, Ales Silva sempre esteve longe de fazer a diferença para um estrangeiro, Ricardo Pesqueira é um jogador importante na defesa, mas é curto em termos ofensivos; o capitão Paulo Moreno é de longe o pivot que mais faz a diferença, mas contra um pivot de maior estampa física como um Tiago Rocha ou um Alexis Borges passa por dificuldades. É preciso mais.
Desequilíbrio físico – Pedro Seabra e Belone Moreira são dois dos principais jogadores da equipa. Quando estão inspirados fazem do Benfica uma equipa muito difícil de bater. Apesar disso, são jogadores que não reúnem plena consensualidade por parte dos adeptos, pelo facto de serem jogadores com uma estatura abaixo da média para jogadores da primeira linha. A meu ver, isso não é problema para eles, porque compensam a baixa estatura com uma inteligência e qualidade técnica acima da média que lhes permite definir e executar de forma rápida e eficaz. No entanto, a dimensão física não deixa de ser muito importante no andebol, e faltam jogadores que deem algum equilíbrio à equipa nesse aspecto, sendo que a nível físico a equipa sempre esteve muito dependente dos pivots e de Cavalcanti.
Irregularidade – esta foi a palavra-chave ao longo da temporada. Foram mais que muitos os jogos nesta temporada em que a equipa era capaz do oito e do oitenta. Em muitos jogos a equipa fazia boas exibições, praticava um andebol de qualidade, mas a uma certa altura tinha uma queda brutal no desempenho, queda essa que saía cara nos jogos grandes. Estas oscilações no desempenho da equipa podem dever-se à falta de profundidade do plantel e ao desequilíbrio físico, mas mesmo assim, este plantel podia e devia fazer melhor. Uma equipa que marca 34 golos em casa do campeão nacional tem de ter qualidade.
Carlos Resende – têm-se levantado muitos pontos de interrogação quanto a Carlos Resende. Há dois anos atrás, era público que a lenda viva do andebol nacional era pretendida pelos três grandes e que este acabou por optar pelo Benfica devido à qualidade da sua formação, de modo a liderar um projecto semelhante ao que realizou no ABC. Quando foi apresentado, Carlos Resende disse que só ia apostar em jogadores estrangeiros que fossem reais mais-valias e que se houvesse na mesma posição um estrangeiro e um português do mesmo nível, iria sempre apostar no português, mesmo que fosse da formação. Porém, Ales Silva foi aposta com Resende nestes dois anos. E no entanto, também se sabe que o próprio Resende já terá recusado a contratação de jogadores por considerar que estes não eram superiores por este considerar que não eram superiores aos que já tinha na mesma posição. As qualidades de Carlos Resende enquanto treinador são mais que firmadas, mas a sua teimosia em querer fazer omeletes sem ovos está a sair cara ao clube.
Carlos Resende e a estrutura do andebol do Benfica precisam de chegar a um consenso e definir aquilo que é necessário para levar o Benfica ao título: se irão apostar em jovens talentos não só nacionais mas também estrangeiros, ou se vão investir a sério para construir um plantel mais forte. As mexidas já confirmadas no plantel parecem seguir o segundo caminho.
Esta última temporada também ficaria marcada pela particularidade da haver contratações anunciadas ainda antes do término do campeonato. No último jogo em casa contra o Águas Santas, foram anunciadas as saídas de Hugo Figueira, Alexandre Cavalcanti, Ales Silva, Stefan Terzic, João da Silva e Arthur Patrianova.
A primeira aquisição a ser anunciada foi o dinamarquês René Toft Hansen, pivot que actua nos húngaros do Veszprem e que se sagrou campeão mundial pelo seu país neste ano, competição onde contraiu uma lesão grave da qual ainda está a recuperar. Mais tarde seria anunciado o espanhol Carlos Molina, lateral-esquerdo oriundo do Madeburg que se destaca por ser um especialista defensivo. Uns dias mais tarde foi anunciado o sérvio Petar Djordjic, lateral-esquerdo sérvio que vem do Meshkov Brest. Deverá ser ele a ocupar a vaga deixada por Cavalcanti.
Estas contratações mostram que a estrutura do andebol do Benfica está disposta a investir a sério na equipa. Mas estas mexidas já anunciadas não me parecem ser suficientes para ombrear com os rivais. Resta que Carlos Resende saiba encaixar as peças no sítio certo e que consiga trabalhar a equipa de modo a que esta jogue de forma mais focada e concentrada. Veremos o que este defeso nos reserva."
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