"Superfinal da Taça Libertadores é um aperitivo do futebol que aí vem sob a égide da FIFA e da UEFA. E os adeptos?
Esta final da Taça Libertadores transpirava problemas por todos os poros ainda antes de ser dado o pontapé de saída e por isso foi decidido que cada uma das duas mãos teria nas bancadas apenas os adeptos da equipa da casa. Isso não foi, como vimos, suficiente para se evitar o descalabro - inspirando, uma vez mais, a estranheza quase filosófica destes comportamentos extremos dos argentinos, povo afável no quotidiano e fanático como os mais fanáticos no futebol!
Aquilo que também vimos foi um pouco do que querem fazer do futebol no futuro - e parece assustador! Numa decisão incompreensível do ponto de vista desportivo, sobretudo na perspectiva dos adeptos, o jogo decisivo foi retirado da Argentina e arrematado como mera mercadoria ao lance mais elevado (e com mais influência nos corredores do poder). O Real Madrid quis juntar mais uma final à longa e prestigiada lista das que já tiveram como cenário o Santiago Bernabéu e, de súbito, toda esta improbabilidade mostrou-nos como a paixão dos adeptos conta cada vez menos face a um futebol-negócio mais preocupado em satisfazer patrocinadores e gente endinheirada.
Para lá do reduzido acesso que os adeptos residentes na Argentina passaram a ter aos bilhetes (cinco mil para cada clube), quantos poderão pagar os preços agora pedidos? Num país onde o salário médio ronda os 365 euros, a diferença que vai de ingressos entre 18 e 80 euros a ingressos entre 80 e 250 euros pode ser bem maior do que aquela que separa os continentes europeu e americano... Se pensarmos que, aproveitando a onda mediática e comercial, a organização deste encontro resolveu passar de 12 mil para 22 mil os bilhetes destinados a sponsors e autoridades (reduzindo os disponíveis para o público), percebe-se como também a distância entre o futebol e os próprios adeptos tenderá a alargar-se na proporção directa do crescimento do tal futebol-negócio como planeiam FIFA e UEFA.
Chame-se Superliga ou outra coisa qualquer, sejam competições europeias ou de selecções, futuramente talvez nos reste pouco mais do que um lamento semelhante ao de Gustavo Alfaro, treinador do Huracán, da Argentina, a propósito da final da Libertadores jogada fora do país: "Estão a roubar-nos algo argentino, como se amanhã nos dissessem que não podemos sequer dançar o tango".
Como se amanhã nos dissessem que o futebol é só para alguns..."
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