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segunda-feira, 9 de abril de 2018

A sorrir com o 'bom fim'

"O Benfica teve 'estrela de campeão'. Teremos no domingo o jogo do ano e, acredito, o jogo do título. Com a esperança de que Jonas recupere.

1. O Benfica ganhou em Setúbal mas sofreu muito. Foi uma vitória sofrida. Sem Jonas foi Raúl Jiménez o herói do Sado. E permitiu que os milhares de benfiquistas que encheram o Bonfim  os milhões que sofreram pela televisão sorrissem a partir de uma cidade bem liderada e de um rio atractivo e que nos leva a antecipar, com ousadia, um bom fim. Mas o Vitória de José Couceiro, principalmente na segunda parte, condicionou, e muito, o habitual jogo do Benfica de Rui Vitória. Com o Vitória, diga-se, a ter uma dupla oportunidade para voltar a liderar o marcador. Mas na primeira parte é inequívoco que o Benfica dominou e mostrou a sua força e a sua convicção. O Benfica, assumo-o, teve a estrela de campeão. E, agora, no próximo domingo teremos na Luz, o jogo do ano e, acredito, o jogo do título. Com a esperança de que Jonas recupere e que se repita, mesmo que seja igualmente no final do encontro, o nosso contentamento. Ou seja que se repita um bom fim. É que, acreditem, com Miguel Cervantes, e nestes momentos, «contento-me»! Desejo, desejamos, e muito, o penta. E jogo a jogo, final a final, o Benfica depende, apenas, dele próprio.

2. Nas últimas horas, diríamos dias, o Sporting viveu momentos singulares. Mesmo que não se queira assumir, o Sporting, este Sporting, viveu ma grave crise. Uma crise de legitimidade e uma crise de autoridade. Uma crise em que Jorge Jesus assumiu um papel relevante, de verdadeiro conciliador e de necessário embaixador. Foi mais que um treinador. Juntou as peças mesmo que elas se não tenham, de verdade, totalmente compreendido. O que diz muito acerca do poder no futebol contemporâneo. Mesmo que se julgue que o futebol que vive um presidencialismo assumido, porventura um presidencialismo excessivo é útil entender que há treinadores com poderes! E aquela concentração de poder-autoridade-influência é interessante em tempos de conquistas ou de legítimo sonho de conquistas - em razão de culpas ou de responsabilidades de outros! - mas pode ser perturbante, por não exclusiva, em instantes de séria crise. Como o universo Sporting percebeu nas últimas horas. Sabemos também da história que o «herói é aquele imovelmente centrado». Eu diria também sentado. Ora nestas longas horas não houve instantes piedosos nem houve, por ora, mais instantes libertinos. E assim, desde o final da noite da passada quinta feira, parece que sentimos duas almas sportinguistas. Na linha, aliás, de Gothe que com o seu Fausto, nos recorda aquelas almas, uma delas rude e a outra que «ascende aos ares». Sabemos bem que «cada ser humano é uma pequena sociedade». E sabendo que a história não se repete também não ignoramos que nada será igual após estas longas horas complexas e bem difíceis. É inequívoco que haverá muitas feridas a sarar, muitas conversas a desenvolver e muitas desconfianças a ultrapassar. Hoje à noite Jorge Jesus frente ao Paços de Ferreira utilizará todos os jogadores entender. E o que era uma suspensão anunciada transformou-se, em razão de uma efectiva consciência e diplomacia desportivas, numa convocatória plena. Mesmo que se queira dizer que há unidade não se pode questionar que há mágoas que só o tempo apaga e que só vitórias desejadas, porventura sonhadas, verdadeiramente ultrapassarão. A inconstância dos homens já era referida, recordo, por Pascal em 1662: «O que provoca a inconstância é a constatação de que os prazeres ausentes são vãos». E no futebol os prazeres são as vitórias. Que não as morais. É que estas suscitam, tão só, imaginação. E, até, agregação circunstancial. E a nossa imaginação tem todos os poderes. Incluindo desordem no corpo e erro no espírito.

3. Na passada terça feira Cristiano Ronaldo mostrou para quem tinha dúvidas, que é um jogador de outro mundo. Frente à Juventus marcou um golo que percorreu o mundo. E o gesto dos adeptos da Juventus foi lindo. Foi um momento singular. Se Cristiano tocou no céu os aplausos no estádio realçam o fair play e mostram que quando a arte e a classe aparecem não há cores, há sentimentos. Puros. Mais do que o golo foi a sintonia entre o impulso e o gesto, a simbiose entre o génio e a velocidade do pontapé. E, ainda, o olhar de um guarda redes que é um monumento e o prazer de um jogador, bem português, que é, também, um dos maiores monumentos vivos do futebol contemporâneo. Não sei se é o melhor golo da carreira de Cristiano Ronaldo. O que sei é que o guardei no meu álbum dos melhores golos de sempre da minha vida vivida do futebol. E na Cave Real, ao olhar para o Senhor Alberto e para a simplicidade de um dos resistentes sapateiros de Lisboa, o Senhor Luís, partilhámos aquele momento singular de um português que leva o seu nome - e também o de Portugal - a todas as partes do mundo. Como uma ilustre directora geral de um relevante Ministério nos contava que sempre perguntam nas visitas oficiais por Cristiano Ronaldo e anseiam pela sua participação pessoal... em próxima visita de uma delegação portuguesa. Que anseio real! Tal como o sempre louvado pontapé, numa bicicleta tão bem cantada, de Cristiano Ronaldo.

4. Algumas notas do futebol de ontem. O Sporting de Braga empatou face ao Feirense. O Nacional ganhou à Académica e já cheira o regresso à Liga NOS. Empresa que também patrocina o Sporting. Mourinho ganhou a Guardiola e impediu que o City festejasse o título inglês. Foi uma semana horrível para a equipa de estado que Guardiola lidera. E, por último, tivemos ontem nos jogos domésticos decisões do VAR que, por bem difíceis, levaram tempo a - diríamos que o tempo necessário - em definitivo, tomar. Por mim, e pelas imagens que vi - em rigor pelas que me mostraram e que, em razão, de ser um assinante cumpridor deveriam ser mesmo todas (logo não deveriam algumas ficar reservadas a programas especiais!) - não acompanho, num dos casos, a decisão final do árbitro em Santa Maria da Feira! Mas o futebol é diferença e controvérsia. Como nos ensinou Shakespeare, «se os homens fossem constantes, seriam perfeitos»!"

Fernando Seara, in A Bola

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