"Como é natural, as maiores equipas portuguesas têm vários jogadores nas selecções nacionais de diferentes países. A equipa do Sporting foi a que teve mais seleccionados para os jogos da selecção portuguesa com o Egito e a Holanda: Rui Patrício, Fábio Coentrão, William Carvalho, Bruno Fernandes e Gelson Martins. O Benfica teve um: Rúben Dias. E o FC Porto não teve nenhum.
Mas os problemas começaram logo a seguir à convocatória. Fábio Coentrão alegou dores musculares – e, embora os médicos não lhe descobrissem qualquer lesão, foi dispensado. William Carvalho apresentou-se, mas nos exames clínicos chumbou – sendo igualmente dispensado. E Gelson esteve em dúvida até à véspera do jogo.
Quanto a Rúben Dias, nem se apresentou: o Benfica informou a federação de futebol da indisponibilidade física do jogador para actuar na selecção.
E o FC Porto, não fazendo parte deste filme, viu dois jogadores seus, que haviam sido convocados para duas outras selecções – o argelino Brahimi e o mexicano Herrera –, regressarem à base pelo mesmo motivo: lesões impeditivas de irem a jogo.
Esta quantidade de lesões impressiona. E não quero crer que sejam simuladas: os jogadores, regra geral, têm orgulho em actuar pelas selecções dos seus países. Coentrão, por exemplo, depois de vários anos afastado em consequência de épocas fracassadas em Madrid, veria neste regresso à selecção nacional o corolário de uma recuperação notável ao serviço do Sporting. Se alegou problemas físicos, foi mesmo porque não se sentia em condições.
E o mesmo vale para Rúben Dias, para quem a estreia na equipa nacional selaria uma época excepcional em que, vindo da equipa B do Benfica, rapidamente se impôs na equipa principal, a ponto de ser convocado por Fernando Santos. Se pudesse jogar, mesmo com algum sacrifício, não hesitaria um segundo.
Ora, excluídas as simulações, estamos perante um problema que faz pensar: a que se deverão tantas lesões, tanto desgaste físico? É sabido que os jogadores jogam hoje muito mais jogos do que antigamente. Mas isso não explica tudo.
Um dos problemas consiste, a meu ver, na intensidade dos treinos. Os treinos dos clubes grandes são muito duros – e os jogadores que não se esforcem ao máximo são preteridos. Assim, os treinos tornam-se “jogos a sério”, pois ninguém quer ficar para trás. E isso leva a um desgaste acrescido e até a lesões (um jogador do Sporting, Daniel Podence, estragou a época com uma fractura contraída num treino).
Mas, aqui, ocorre uma pergunta: tendo em conta essa intensidade nos treinos, os jogadores dos clubes grandes deveriam correr o dobro dos outros – e não é assim. Nos jogos entre grandes e pequenos não se vê um abismo do ponto de vista físico: o desnível não é, pelo menos, perceptível à vista desarmada.
Assim, os jogadores desgastam-se em nome de quê? Alguma coisa nesta matéria não está bem explicada…"
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