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quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Massoud

"Massoud Shojaei é um nome que poucos conhecem no mundo do futebol. Trata-se de um jogador iraniano, vítima da tirania do governo do Irão por leis e regras desajustadas no século XXI.
Sempre jogou na selecção iraniana, sendo o seu capitão até há pouco tempo, ajudando a classificar o seu país para o Mundial. Todavia, tem uma história curiosa que o impede de continuar a jogar pelo Irão e estar presente no Mundial da Rússia sob as ordens de Carlos Queiroz.
O Panionios de Atenas, clube que Massoud representava, obrigou-o a jogar contra o Maccabi Telavive na Liga Europa, apesar do governo do Irão adverti-lo para não o fazer, pois estaria a reconhecer o Estado de Israel e ser contra os princípios da revolução islâmica iraniana.
Massoud viveu um dilema terrível: respeitar as normas da sua selecção ou também ter de respeitar o clube que lhe paga o salário como profissional.
Massoud ainda conseguiu fazer valer os seus argumentos para não jogar em Telavive, contudo em Atenas teve mesmo que jogar. A direcção e o treinador grego não compreenderam tal atitude de recusa, alegando que estava na Grécia, não no Irão, e que estavam em jogo 5 milhões de euros se passassem esta fase da Liga Europa.
Não jogar seria entendido como incumprimento do contrato. A direcção do Panionios ameaçou denunciar esta situação à UEFA, pois se um atleta se negar a jogar por razões politicas pode ser suspenso no mínimo um ano.
Massoud não teve outra solução do que jogar, respeitando a sua entidade patronal, mas desobedecendo à sua entidade selecção e Governo do seu país.
Havia um passado histórico: nenhum desportista iraniano, em 38 anos, tinha competido contra desportistas ou instituições israelitas. A Internet serviu para os acólitos da revolução iraniana difamarem Massoud.
Carlos Queiroz, preocupado com esta situação, tendo em conta que é um jogador valioso para a selecção, aconselhou Massoud a pedir desculpa pelo sucedido. Um colega seu iraniano, Hajisafi, que estava na mesma situação, manifestou profundo arrependimento e desculpas. Foi reintegrado na selecção.
Massoud entendeu esse pedido de desculpas como uma humilhação que era injustificada e negou-se a fazê-lo. Deste modo, em princípio não irá ao Mundial.
O futebol é um desporto que permite interagir e comunicar com todo o tipo de raças sem olhar a credo, política ou outrem.
É muito triste uma situação destas. Massoud é um jogador de futebol com um contrato profissional, que jogava há 12 anos no estrangeiro e há 13 anos pela selecção iraniana. Actualmente joga no AEK de Atenas.
É descabido e absurdo ser impedido de jogar na sua selecção. O governo, esperto como é, não diz que o veta e atira a batata quente para Carlos Queiroz, pois sabe que a FIFA pode desclassificar o Irão e impedir que esteja presente no Mundial da Rússia no próximo Verão.
A FIFA proíbe expressamente nos seus estatutos ingerências dos governos nas suas competições.
Mas toda a gente percebe que quem não quer que Massoud volte à selecção é o governo de Hassan Rouhani, que chega ao cúmulo de impedir que as mulheres possam assistir a um jogo de futebol.
O Irão que se cuide pois está a braços com manifestações anti-governo que duram há uma semana e nas quais morreram 21 pessoas. E não se tem a noção da real dimensão devido à restrição de acesso de meios de comunicação social independentes e ao bloqueio das redes sociais verificado nos últimos dias. Esta semana foi proibido ensinar inglês na escola primária.
O futebol é algo que deve ser utilizado para unir e não para separar. Cada dia que passa o futebol politiza-se e dá uma noção da sociedade em que vivemos.
Não tem pés nem cabeça proibir de jogar alguém que é obrigado a respeitar o clube que lhe paga o seu salário. Nesse caso, o Irão que não deixe os seus jogadores jogar no estrangeiro e lhes pague o merecido.
Este procedimento está completamente contra o desejo da população iraniana que aspira abertura e viver a sua vida em tolerância e em paz não abdicando das suas crenças e ideias."

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