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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Das desculpas

"Eu sei que a história mostra que, mais tarde ou mais cedo, o futebol não aceita desculpas, só aceita resultados. Mas se é assim, sempre assim, para os treinadores (ou os jogadores), não é assim para os presidentes (ou os seus afins) - pelo menos nas manigâncias ou nos embustes deles (ou dos seus afins). E essa é a razão por que o futebol (que não é o futebol) se tornou no que se tornou em Portugal: um jogo espurco que se vai jogando por ardis, em que a ideia de que contra factos não há argumentos se transformou, perversa, na ideia de que contra argumentos não há factos; um jogo velhaco em que terroristas da palavra (empolada ou distorcida) o vão jogando como uma guerra sem bala, por entre mails e painés de televisão (com eles ou sem eles), discursos esconsos e entrevistas armadilhadas, ataques descabelados e réplicas despudoradas, golpes de bastidores e latíbulos. Tudo isto feito, directa ou indirectamente, por uma fauna de pérfidos e trapaceiros, marionetas e ventríloquos, servis e serventuários, oportunistas e bajuladores, paranoicos e narcisistas, esquivos e esquizoides. Sim: muitos deles, quase todos, são, num só, várias dessas coisas ruins - e de outras que me falta espaço para acrescentar.
Ok, ainda tinha 21 linhas para isso, mas não, não as vou gastar assim, vou gastá-las para dizer que, em vez de mais ou menos caramunhas, os árbitros deviam ter avançado mesmo para a greve que ameaçaram. Que não o fazendo perderam já mais do que podem vir a ganhar depois, acobardando-se na resposta que mereciam aqueles que os têm tratado pior do que apenas os bodes expiatórios que precisam de inventar para que as suas desculpas sejam mais importantes que os seus resultados - acobardando-se na resposta que mereciam aqueles que insistem em fazer do futebol, na  verdade das suas mentiras, a mais maquiavélica actividade humana, como os fins a justificarem todos os meios. E que só o retirar, sorrateiro, de um reclame da camisola, estando em causa o que está, me pareceu ridículo, simplesmente ridículo."

António Simões, in A Bola

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