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terça-feira, 14 de setembro de 2021

O antivedeta


"Francisco Moreira preocupava-se mais em ajudar os protagonistas do que em ser protagonista

Os jogadores mais tecnicistas são destacados tanto pelos adeptos como pela imprensa.  A facilidade com que criam jogadas de antologia em que, com um rasgo de fantasia, deixam vários adversários para trás seduz, quem assiste à partida. Contudo, o sucesso de uma equipa não depende apenas desses jogadores, é necessário juntar aos artistas um 'carregador de piano', o tipo de futebolista que é pouco valorizado, dá poucos toques na boal e muito raramente marca um golo. O seu trabalho em campo torna-se invisível para quem está na bancada à espera de ver uma jogada ou um golo que possa ser alvo de comentários durante dias. Esse jogador dificilmente será protagonista desse momento, por estar mais empenhado nas tarefas defensivas e, quando tem a bola, devolve-a rapidamente aos mais habilidosos. É a sombra dos ídolos!
Francisco Moreira encaixava de forma perfeita nesse perfil. Batalhador, aguerrido e incansável, corria do primeiro ao último minuto. Em 1944, ingressou no Benfica, proveniente do Barreirense. Humilde, apesar de jogar num clube da dimensão dos 'encarnados', jogou da mesma maneira que jogava quando actuava pelo conjunto da margem sul do Tejo. Na sua estreia de 'águia ao peito', frente ao FC Porto, evidenciou essas características, preocupado em fazer brilhar os companheiros, 'ao cuidar sempre com necessária atenção de endossar a bola baixa aos avançados, de maneira a poder ser recebida de forma jogável'. A primeira parte não correu de feição aos 'encarnados', indo para intervalo a perder por 3-0. Mas, no segundo tempo, os benfiquistas transfiguraram-se e em muito contribuiu a actuação de Moreira, bastante activo nas recuperações de bola. O Benfica superiorizou-se e chegou à igualdade, com golos de Brito, Espírito Santo e Rogério.
A disputar uma partida amigável, as duas equipas preocuparam-se mais em desfrutar do que em gerir o resultado, lançando-se para o ataque nos últimos minutos. Numa jogada de contra-ataque, os portistas desfizeram o empate e fixaram o marcador em 4-3. Apesar da derrota, Moreira convenceu com o seu espírito competitivo, 'uma exibição em cheio'.
O jogador ganhou um lugar no 'onze' e tornou-se num dos principais jogadores do Benfica, fazendo história ao contribuir para a conquista da Taça Latina em 1950. A esse título juntou dos Campeonatos Nacionais e quatro Taças de Portugal.
Após uma década de 'águia ao peito', manteve a postura de sempre, que ficou vincada nos elogios: 'nunca reuniu condições para ser um grande ídolo popular, mais impôs-se às multidões pelas suas características de lutador, esforçado, de batalhador incansável'. Saiba mais sobre a carreira de Moreira na área 23 - Inesquecíveis do Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

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