"Na maioria dos países industrializados, o acesso à educação é considerado como natural. A literacia é elevada e quase todos os países se sabe ler e escrever, pelo menos a um nível básico. Mas nem sempre foi assim. Durante séculos, a educação formal era só para alguns. As crianças ajudavam, desde tenra idade, nas tarefas domésticas, no cultivo da terra e nos ofícios. O sistema moderno de educação começou, na maioria das sociedades ocidentais, no início do século XIX. De lá para cá, a educação tornou-se um campo de luta política e os debates são prolongados. No mundo da política, podemos dizer que os “diálogos” se caraterizam mais pela tentativa de se ter razão do que pela procura de uma verdade que defenda os interesses de uma população. Não há escuta! No mundo das dualidades, estamos sempre convencidos da necessidade de separar a verdade da mentira, o certo do errado, o branco do preto, a posição justa da injusta, etc.
Ivan Illich (1926-2002) é conhecido pela sua posição crítica relativamente ao desenvolvimento económico moderno. Ele descreve-o como um processo, no qual as pessoas são despojadas das suas capacidades tradicionais. Aceita a noção de escolaridade obrigatória. No seu entender as escolas desenvolvem quatro tarefas: os cuidados de custódia (as crianças são mantidas longe das ruas), a distribuição de pessoas por ocupações, a aprendizagem dos valores dominantes e a aquisição de conhecimentos. IlIich fala de um currículo oculto, ou seja, o que se aprende na escola nada tem a ver com o conteúdo das lições. Inculca-se o “consumo passivo”.
O sociólogo Pierre Bourdieu (1930-2002) fala de um conceito de “reprodução cultura”, isto é, como as escolas contribuem para perpetuar as desigualdades económicas e sociais. As crianças passam imensas horas na escola. Sentem o sabor do que será o mundo do trabalho, aprendem a ser pontuais e aplicam-se nas tarefas estabelecidas.
O desporto inscreve-se numa perspetiva educativa. A ideia de um desporto automaticamente educativo, como ferramenta mágica de ação social, é datada. O princípio consensual é que o desporto é uma prática social e cultural, que tem um certo número de especificidades, podendo ser uma mais valia no projeto global centrado no indivíduo. Os projetos de educação pelo desporto são muito diversos, nos seus formatos de ação, e dependem dos constrangimentos sociais e organizacionais."
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