"Fechado mais um mercado de verão – que de normalidade pouco teve – a altura é de balanços. Quando se analisam as lacunas que ainda ficam por preencher, quando se discute qual o plantel que mais evoluiu, eu prefiro olhar para o papel a que o jornalismo desportivo se prestou.
Desde os primeiros rumores ficou no ar a ideia que, afinal, não há crise pandémica que afete os cofres dos clubes portugueses e que a tendência seria contratar sem fim. Na verdade, apercebemo-nos disso todos os anos, mas este ano esse facto ganha maior relevância, dado que os valores do mercado também sofreram com a longa pausa.
Assim que o primeiro rumor a tresandar a mentira surgiu, comprometi-me a apontar todos os rumores até ao fecho do mercado. A sério, apontei mesmo. Pode ter passado algum, admito. Tudo o que fosse noticiado por um órgão de comunicação social e que visasse SL Benfica, FC Porto ou Sporting CP teria reprodução no meu bloco de notas e entra neste artigo.
Os leões foram os menos visados na dança de nomes a que já nos habituamos. A SL Benfica e FC Porto foram apontados plantéis inteiros, com as águias a terem até direito a novelas para o comando técnico. Passo, então, a apresentar os nomes apontados a cada clube, sem qualquer ordem específica.
SL Benfica – treinadores: Laurent Blanc, Mauricio Pochettino, Jorge Jesus, José Mourinho. Jogadores: James Rodríguez, Gelson Martins, Luca Waldschmidt, Cavani, Bruno Henrique, Gerson, Slimani, Rafinha, Everton Cebolinha, Rúben Semedo, Robin Koch, Rodrigo Moreno, Mario Mandžukić, Lucas Veríssimo, Garay, Mehdi Taremi, Leandro Cabrera, João Mário, Ángel Di María, Gilberto, Zlatan Ibrahimović, Jan Vertonghen, Darwin Núñez, Diego Costa, Otamendi, Todibo e Nathaniel Clyne (27).
FC Porto – jogadores: Rúben Semedo, Pedro Gonçalves, Toni Martínez, Uroš Račić, Fábio Martins, Centelles, Luca Waldschmidt, Zaidu, Mateo Retegui, Mehdi Taremi, Hulk, Evander, Brahimi, Nuno Santos, Cláudio Ramos, Danny Loader, Ignacio Ramírez, Renê Santos, Olivier Ntcham, Radamel Falcao, Thomas Lemar, Markus Henriksen, Rúben Vinagre, Alfredo Morelos, Santiago Arias, Evanilson, Otamendi, Majid Hosseini, Matías Vargas, Marcus Edwards, Pepê, Matheus Reis, Álex Collado, Riqui Puig, Nanu, Malang Sarr, Lucas Veríssimo, Todibo, Rafinha Alcântara, Felipe Anderson, Héctor Herrera, Dany Rose, Miguel Layún, Jesse Lingard e Sami Khedira (45).
Sporting CP – jogadores: Zouhair Feddal, Pedro Porro, Mehdi Taremi, Antonio Adán, Antunes, Nuno Santos, Wanderson, Lautaro Gianetti, Lyanco, Slimani, João Mário, Pedro Gonçalves, Paulinho e Luis Suárez – o do Granada CF (14).
A questão que se coloca depois de tão extensa e cansativa liste é a seguinte; seriam mesmo todos alvos reais? Quantos destes nomes são simples “balas para canhão”? E sim, já estamos habituados, mas faz disto um problema menor ou que não se deva discutir?
Que papel presta o jornalismo desportivo à sociedade quando não respeita os valores que lhe são exigidos? Falamos de verdade, de consulta e cruzamento de fontes, seriedade, rigor… Como ficam vistos os prórpios jornalistas quando se concretizam apenas 27 das 90 transferências anunciadas, muitas delas dadas como garantidas?
É verdade que nem todos os rumores podem ser confirmados, mas será normal que mais de dois terços do que vem anunciado é rumor e falha a contratação por pouco? É certo que o rumor faz parte do mercado de transferências, mas os casos de interesses claramente inventados nas redes sociais e que chegam a programas dedicados ao mercado acumulam-se e isso é preocupante.
É que para isso bastava que todos seguissem as mesmas contas no Twitter e o trabalho do jornalismo seria dispensável. A verdade é que o bom jornalismo, aquele que beneficia de boas fontes de informação e consegue anunciar quando há certezas, é raro, mas fundamental. Seria esse tipo de jornalismo que anunciaria Grujic no FC Porto ou Tabata no Sporting CP.
Cada vez mais assistimos a novelas longas, a jogadores que estão indecisos entre o clube A e B, algo que não me lembro de ver. Este ano tivemos, inclusive, diretos televisivos a seguir aviões privados que iam transportar uma estrela dos relvados. Estrela, essa, que estava tão garantida em Portugal que acaba a jogar em Inglaterra. A dignidade do jornalismo desportivo português, essa, pode ser que chegue no mercado de inverno."
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