"1. À data da saída desta edição, se calhar, inicia-se aquele que eu acredito venha a ser o primeiro julgamento do ainda arguido e réu que vai acusado de esvrentar e escarafunchar sistemas informáticos alheios, à procura de bens que lhe pudessem render uns valentes trocos para seu sustento e de mais alguém outrem - tanto com quem compartia modelos de vida, como ainda com quem partilhava propósitos e defesas.
2. Se calhar? Perguntar-me-ão... Sim, isso mesmo: se calhar. Se calhar, digo eu, porque com a Justiça portuguesa, a gente nunca sabe. E então, depois de umas férias tão longas, tão cómodas e tão oportunas para acrescentar mais tempo ao tempo, nunca se sabe se os juízes - com a lazeira que a opinião pública vai sinalizando nesse domínio - estarão com pachorra suficiente para atacar tanto serviço acumulado.
3. Mas, por falar em preguiça, muito menos se sabe se a montante os judiciários se mostrarão igualmente disponíveis para cumprir com as suas obrigações. Ou se, pelo contrário, continuarão ou não, já que afinal também parece - o que não significa que seja verdade - que, na carteira do trabalho que isso lhes dá, ficará mais em conta permanecer quieto do que ter que trabalhar no duro, como dantes mandavam as regras e a ética do serviço.
4. Ora, o que às vésperas do grande 'evento' se tem visto em todas as varandas, janelas e frestas de toda a espécie de comunicação social, tem sido uma metódica e estrutradíssima campanha de comunicação, cujo alto investimento, na estrénue defesa e magnificação dos pontos de vista do ladrão que deliberadamente se introduziu pelos seus meios e habilidades onde, nem a lei moral, nem as Leis do estado (mas afinal, neste estado haverá Leis?...) aonde não seria suposto que tivesse acesso nem, ainda menos, da qual pudesse extrair fosse que proveitos fosse.
5. Aquilo a que todos temos assistido com o inacreditável concurso e a não menos despudorada e conjugada proactividade de redacções inteiras, a soldo de diversos grupos de comunicação, tem sido nem mais nem menos do que aquilo que o senso comum designa como uma operação de branqueamento dos propósitos e da execução de um crime e do seu inefável autor confesso. Ou melhor, como uma inequívoca campanha de desculpabilização de criminoso e das suas não menos ignominiosas intenções e actos nesse sentido.
6. Isto dito, conforme o que se ouve me muitas e diversas sedes e situações como sentimento não menos generalizado e constante nos portugueses, vale levantar a questão: por que razão escondia ou evidente, tantos meios de comunicação se mantêm de modo tão persistente, tão intenso e tão organizado na defesa do que afinal, aos olhos dos portugueses já está apreciado e julgado como se tratando de um mero ladrão de caixas de correio, desejoso da popularidade canalha?
7. A resposta mais óbvia para a pergunta haverá de ser porque os activos das redacções, ou quem neles manda, presuntivamente terão, talvez, arriscado nas suas laboriosas meninges que os juízes que têm de exercer Justiça neste (decisivo) julgamento, afinal fossem mais permeáveis ainda (e mais ingénuos e ociosos) dos que os judicialistas polícias que - a meio do caminho da investigação - se deixaram fascinar pelo súbito colaboracionismo daquele que passara vários anos a gozar com a cara deles...
8. E eu, no final das contas, quero esclarecer que não acredito nessa tanga."
José Nuno Martins, in O Benfica
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