"Durante as entrevistas eu ouço sempre a mesma pergunta: “Mas, e então, gostas daquilo que fazes? Não te cansas de contar os azulejos?”
Pode parecer incrível, mas esta é a questão que eu menos gosto de responder, pois as pessoas estão sempre à espera de ouvir o clássico “quem corre por gosto não cansa”. Bem… sendo uma fanática de corridas bidiárias dentro da água, posso garantir-vos que cansa como tudo e que 70% do tempo não gosto daquilo que faço. Aliás… questiono-me frequentemente (10 a 15 vezes por treino) porque não escolhi outra modalidade? Parece-me que golfe ou tiro têm cada vez mais a minha personalidade e não estou a tentar ofender os praticantes dessas modalidades, mas só a ideia de não cheirar como um bidão de cloro e ser capaz de pentear o meu cabelo sem que 50% dele caia parece-me divinal.
E agora vocês perguntam, mas, se não gostas do que fazes, porque continuas? Ora aqui vai: comecei a praticar esta modalidade por motivos de saúde. Para a felicidade dos meus pais as constipações e a hiperatividade não tiveram a mínima hipótese contra as três aulas semanais que fazia aos sete anos. Mas, atenção, Natação em excesso não se acumula e não pode ser trocada por vidas suplentes (neste momento tenho quatro contraturas como a prova do mesmo).
Aos nove-dez anos, quando a minha saúde já se assemelhava à do Aquiles no seu melhor estado de forma, fui maliciosamente enganada com promessas de infinitos saltos para a água e aulas “divertidas”. Neste momento, com 20 anos de idade, ainda estou à espera da parte divertida.
Eu tinha 14 anos quando integrei a minha primeira selecção nacional e esse foi o momento mais importante da minha carreira. Sendo “criança”, adorei viajar para outro país, competir com os estrangeiros e ganhar as minhas primeiras medalhas internacionais. Decidi aí que queria fazer mais e ser melhor. Infelizmente (ou não), não tenho imagens desses tempos gloriosos em que usava aparelho e andava com fato de treino XL masculino.
Neste momento, estou a preparar-me para os meus segundos Jogos Olímpicos e não consigo dizer que gosto de Natação. São cinco horas de trabalho diário em que dás tudo o que tens e o que não tens. Pensando que não aguentas mais uma única braçada aumentas ainda mais de velocidade e terminas a série sem respirar… simplesmente é demasiado tempo na piscina. Demasiado tempo dedicado à Natação… esse desporto tão duro que me tornou mais saudável e mais forte, mostrou-me o Mundo, ofereceu-me os melhores amigos que tanto festejam as minhas vitórias como me limpam as lágrimas, criou um laço de profunda amizade e respeito com o meu treinador, fez com que os meus pais se orgulhassem de mim, deu-me a oportunidade de representar o meu país e tornou-me melhor pessoa."
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