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quinta-feira, 31 de maio de 2018

O que é este Real Madrid para lá das estrelas?

"A razão por que umas equipas ganham mais vezes que outras remete-nos sempre para discussões que tendem a fugir ao que é mais mensurável e agarramo-nos a subjectividades, 'achómetros' e pontos de vista que têm um pouco de tudo e muito de nada. Essa discussão voltou à agenda no passado fim-de-semana sobre a razão que leva o Real Madrid a conquistar tantas vezes a Liga dos Campeões nos últimos anos.
Não querendo abordar o tema pela questão táctica – até porque curiosamente a mesma quase nunca é abordada quando se tenta justificar o porquê – é interessante percebermos que no futebol uma equipa tende a piorar o seu desempenho a partir do momento que tem no seu onze base mais do que sete atletas considerados estrelas do futebol.
Sendo que aqui, o conceito de estrela não é de alguém que brilha também fora, mas sim, que reúne as características de ser alguém que para lá ser um expert no que faz, apresenta um conjunto de princípios diferenciadores – e nem sempre positivos - nos seus valores colectivos. Comparando com a NBA, o número de atletas é de dois no cinco-base e isso explica que nos desportos colectivos e no melhor recrutamento, se tenha passado a contratar complementos e compatibilidades aos melhores jogadores e não ‘apenas’ mais e melhor, se o objectivo não for substituir uma estrela por outra estrela.
Voltando ao Real Madrid, deixo aqui seis pontos que podem ajudar a explicar o porquê.
1. Cultura: Não estando por ordem de importância, esta é claramente uma das principais razões para justificar o sucesso do Real Madrid nesta competição: cultura competitiva e vencedora nesta competição. Os hábitos, a estratégia e os valores do clube associado ao protagonismo e visão da competição. Desde da entrada do actual presidente que a cultura do Real Madrid se focou num modelo de negócio que se identifica mais com os benefícios e consequências de vencer uma Liga dos Campeões do que qualquer outra competição.
2. Continuidade: O onze titular das últimas duas finais foi o mesmo. Ao nível das sinergias entre os vários jogadores, este ponto vale milhões. Literalmente. A capacidade de manterem os mesmos processos ou a capacidade que os mesmos jogadores têm de individual e colectivamente se adaptarem às alterações por parte do treinador ou forçadas pelo contexto são processos humanos e tácticos que podem fazer a diferença em situações críticas como foram alguns que aconteceram durante a época desportiva do Real Madrid.
3. Qualidade: Não sei se o plantel do Real Madrid é o melhor do mundo. Não sei se em termos de soma de qualidade não existem outras equipas que não tenham tanta ou mais qualidade. Mas é importante que essa qualidade esteja distribuída por todos os sectores do campo, aliada aos processos de continuidade (ponto 2) e aos diferentes tipos de jogador que a equipa possui. Desde da estrela ‘maior’ Ronaldo, até às estrelas ‘mais colectivas’ como Ramos, Marcelo ou Benzema, até às estrelas ‘sombra’ mas com uma enorme qualidade e que possibilitam que os outros possam brilhar como são os casos de Modric, Kroos ou Varane. Até aos jogadores que neste plantel são vistos como medianos mas que em qualquer outro plantel seriam claramente destaques: Carvajal ou Navas. Por fim, os que já têm muita qualidade, mas face ao contexto, vão sendo vistos como jogadores a aparecer, mas que já se percebeu que estarão a brilhar muito daqui a pouco, sendo Isco o melhor exemplo.
4. Entretenimento e negócio: O Real é mais do que um clube. Tal como o Barcelona o é. Mas os de Madrid respiram negócio. Vendem entretenimento e espectáculos antes, durante e pós jogo. Daí (ponto 1), a discussão em Espanha ser se um clube como o Real tem como foco maior o vencer a Liga Espanhola ou a Liga dos Campeões face ao retorno mediático, financeiro e desportivo que as competições proporcionam. Claro que a resposta seria que um clube como o Real deve vencer sempre as duas competições, mas em situações como a deste ano, o que leva o clube a apostar em determinada altura da época nos jogos europeus e menos os espanhóis?
5. Liderança: A discussão não é se Zidane é um bom ou um excelente treinador. Sim, porque até acreditaria que um treinador pudesse vencer a Liga dos Campeões com alguma sorte ou nem sei bem o quê (que nome se pode dar a Di Matteo?), mas não catalogar Zidane como um treinador competente é uma ofensa. Para liderar uma equipa com um rol enorme de estrelas dentro e algumas fora do onze-base é necessário ter outras características para lá de perceber muito das questões técnicas ou tácticas do jogo em si. Zidane é um estudo de caso de alguém que consegue (aparentemente) liderar uma equipa recheada de potenciais egos e objectivos individuais e chegar ao final da época como nada se tivesse passado em termos de conflitos. Existe um enorme mérito do francês, goste-se ou não do seu estilo.
6. Ronaldo: A discussão não é se Ronaldo é melhor ou não do que Messi, estejam descansados. A questão é que em todas as equipas que vencem muitas vezes, há sempre aquele que nas horas 'h', minutos 'm' ou segundos 's', não tem receio de se assumir e decide geralmente bem. Seja o Michael Jordan ou o mais actual Lebron James, seja o português no Real e na selecção, Ronaldo é o jogador que é reconhecido pelo plantel como o que trabalha e merece para ter uma distinção ainda maior que os outros todos. E o reconhecimento interno é por vezes mais difícil de obter que o exterior."

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