"Ele não é Thierry Henry. E nunca será
Todos galam Ronaldo e Messi, ninguém deixa de falar de Lewandowski ou Suárez e nenhum deixa passar os craques Agüero e Kane. E bem. No entanto, há alguém de quem não se fala. Ou melhor, fala-se, mas é, quase sempre, para criticar. Senhoras e senhores: chama-se Olivier Giroud e é, discutivelmente, o jogador mais subvalorizado do Mundo.
Dois erros clássicos na apreciação de um jogador: falta de entendimento acerca do que ele faz em campo e, sobretudo, expectativas desajustadas. Giroud sofreu e sofre os efeitos de ambas. Não é um homem de 40 golos por temporada, não é rápido, não é um criativo (pelo menos, da forma como muita gente imagina um criativo), não inventa lances para si próprio e, acima de tudo isto, não é Thierry Henry. E nunca será. Foi este o problema aos olhos dos adeptos do Arsenal, que não se importaram de vê-lo sair para o Chelsea.
Estava a ver um Chelsea-Manchester United com alguém do sexo feminino ao lado. “Quem é aquele?”, perguntou-me. “É o Giroud. Joga nas horas”, repliquei, assumindo que a conversa ficaria por ali. “Giroud? Lá ‘girrú’ ele é, sem dúvida. Agora, sim, estou interessada no jogo”. É evidente o fascínio que o francês provoca em quem vê a bola para apreciação física aos atletas. Estranho é que não consiga provocar fascínio em quem gosta de ver bola pela bola.
Mas caramba: já perderam uns minutos a observar Giroud? Se não perderam, façam-no. Giroud tem um controlo de bola inacreditável. Muita classe. O primeiro toque de Giroud é, quase sempre, impecável. Nisto há poucos como ele. Depois, é um avançado que combina divinamente com os médios, quer a segurar em apoio frontal, quer a receber e distribuir nas alas. Jogo de cabeça? Tremendo. E já lhes trarei números sobre isso. Pontapé? Forte. Saem bombas da canhota. A talhe de foice, olhem ainda para a inteligência de Giroud no momento da pressão à saída adversária. Não corre à toa, até porque joga, muitas vezes, sozinho. Muito inteligente a gerir os momentos de cair no portador da bola e os momentos de deixá-lo sair em condução. Muitas destas coisas são pouco visíveis? Sim. Eu sou um visionário? Não. A qualidade de Giroud é facilmente decifrável e as críticas são injustificadamente frequentes. É o avançado ideal para equipas que joguem em posse, pelo chão, em movimentações rápidas. Melhor ainda se tiver ao lado alguém móvel, a romper na profundidade quando Giroud baixa em apoio. Um 4x4x2 com Giroud nunca será uma coisa má.
Mas aqui estou eu a criticar quem não olha para o que faz Giroud e para quem olha apenas para números. Assim sendo, entro também eu na roda dos números. Giroud é um tremendo goleador? Não. Mas sabem uma coisa? Desde que chegou a profissional, na Liga Francesa, em 2010, nunca ficou abaixo dos dois dígitos em registo goleador. E passou quatro vezes os 20 golos, mesmo jogando na Liga Inglesa. No Arsenal, por exemplo, foi mais rápido do que Van Persie a chegar aos 100 golos pelo clube. E já agora: fê-lo mesmo saindo tantas vezes do banco. Na história da Liga Inglesa, apenas o velhinho Jermaine Defoe fez mais golos como suplente utilizado. Giroud está acima de gente como Solskjaer, Kanu, Chicharito, Sturridge ou Crouch. Cabeça? Ele tem. Nas últimas três temporadas, ninguém nas cinco principais ligas fez tantos golos de cabeça. Nem mesmo Ronaldo. Cruzem decentemente, que ele dá-vos troco. Na selecção francesa, Giroud já chegou aos 31 golos e é o quarto melhor de sempre. Já passou Zidanes, Fontaines ou Papins e, em breve, ultrapassará Trezeguet. À sua frente, ficarão apenas Platini (41) e Henry (51).
Já chega de números. Giroud é um craque. Não, nunca será Henry, mas ninguém deveria pedir-lhe isso."
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