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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Quando a pós-verdade chega ao futebol

"Tapar o sol com a peneira dizendo que a culpa é dos árbitros desresponsabiliza os jogadores e atrasa a resolução do problema.

Abraham Lincoln, 16.º presidente dos Estados Unidos e homem de grande sagacidade e bom senso, disse um dia que «pode enganar-se todas as pessoas por algum tempo e algumas pessoas durante todo o tempo. Mas não se pode enganar toda a gente por todo o tempo». Esta verdade simples é esquecida, amiúde, pelos criadores de sound bites, mais preocupados com a forma de comunicar do que com a substância da matéria. E aquilo que se comunica, na maior parte dos casos, dificilmente tem a ver com a realidade, encaixando, isso sim,  na palavra do ano de 2016 para os editores dos dicionários Oxford: a pós-verdade. Pós-verdade é um adjectivo que se utiliza quando se pretende sublinhar que a verdade tem menos influência na formação da opinião pública do que os apelos emocionais e as opiniões pessoais, que podem ser mentiras.
Quando se envereda por este caminho, um dos objectivos pode ser ganhar tempo, até que a verdade encontre aquilo que não passa de pós-verdade. Imagine-se uma equipa de futebol que tarda em arrancar e não apresenta resultados consentâneos com as ambições dos adeptos e os objectivos do clube. É possível, durante algum tempo, enganar todas as pessoas, dizendo que a culpa dos desaires é dos árbitros; e é também possível enganar algumas pessoas, durante o tempo todo, com esse mesmo argumento. O que não será possível é enganar todas as pessoas durante todo o tempo. E o futebol, neste particular, é deveras linear, porque a verdade dos resultados não se compadece com nenhuma pós-verdade.
E o que é que acontece quando se escolhe trilhar essa rota de areias movediças? Impede-se que as verdadeiras causas do problema sejam atacadas, ilude-se o diagnóstico e permite-se à doença que se propaga. Em qualquer equipa de futebol onde as coisas não estão a correr bem, é música celestial para os ouvidos dos jogadores ouvir que a culpa é dos árbitros. Essa desresponsabilização causa danos irreparáveis e atrasa a cura, por vezes de forma irreversível.

PS - Um amigo meu benfiquista, quando o clube da Luz marcou o terceiro golo ao Moreirense, enviou-me uma mensagem que dizia: « Agora é que isto ficou perigoso. Com 3-0 nunca se sabe...» A ironia sempre foi uma boa forma de sublimar frustrações.

Pequeno príncipe pronto para dar o salto do Mónaco
«Toque de bola notável e decisões de uma lucidez rara. É a joia da coroa monegasca...».
Apreciação em L'Equipe de Bernardo Silva (Mónaco, 4 - Marselha, 3)
Bernardo Silva terá sido o maior erro de avaliação da carreira de Jorge Jesus. É verdade que então JJ tinha Gaitán e Salvio para as alas, mas um talento assim nunca deveria ser desprezado. Acontece a todos e não é por isso que Jesus percebe menos de futebol. Já em Bernardo, começa a sentir-se que o Principado é pequeno para tanta arte. Voos mais altos, avizinham-se...

ÁS
Juan Martin Del Potro
Pela primeira vez na história a Argentina conquistou a Taça Davis. Fê-lo em condições especialmente adversas: jogou em Zagreb, casa da Croácia, não apresentou nenhum jogador top 20 e foi capaz de virar de 2-1 para 2-3, proeza que desde 1981 ninguém conseguia. Épica, a vitória de Del Potro sobre Cilic, a chave do êxito.

ÁS
Pameiras
A grande espera de 24 anos terminou e o Palmeiras voltou a sagrar-se campeão do Brasil. Ontem, a Allianz Arena de São Paulo foi um mar de lágrimas de felicidade pelo triunfo da equipa liderada por Cuca, que teve em Gabriel Jesus (a caminho do City) a estrela maior e no ex-leiriense Fernando Prass a referência ética.

Duque
Nuno Espírito Santo
O défice de concretização dos dragões tem a ver com a falta de eficácia dos avançados ou com o modelo de jogo implementado por Nuno Espírito Santo? Nos últimos seis jogos o FC Porto fez dois golos; nos últimos três não fez nenhum. O técnico portista deverá continuar à procura da fórmula certa e para isso precisa de estabilidade.

O sortilégio do 34
Com a vitória de Nico Rosberg no Mundial de F1 de 2016, a família Hill (Graham e Damon) passou a ter companhia no quadro de honra da principal competição do desporto motorizado. Keke Roseberg tinha-se sagrado campeão em 1982 e Nico segui-lhe os passos 34 anos depois; e não é que o tempo que mediou entre a conquista de Graham Hill (1962) e o título de Damon Hill (1996) não foi também de 34 anos? O ano de 2016 da F1 foi emocionante e é uma pena que Portugal não tenha podido ver, pela televisão, ao vivo, todas as emoções do circo...

Cuba em mudança, no desporto também...
A morte de Fidel astro fez manchetes em todo o mundo mas o 'Le Monde' terá sido dos poucos jornais a dizer tudo em apenas duas palavras ('Fidel Castro icône et tyran'). A partir de agora Cuba mudará ainda mais rapidamente e essas mudanças terão reflexo também no desporto, visto por Fidel como um instrumento ao serviço do estado."

José Manuel Delgado, in A Bola

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