"Um jogo entre Sporting e Benfica com influência direta na atribuição do título nacional não precisa de ser apimentado, já possui, por natureza, o tempero certo, capaz de agradar ao paladar mais exigente. Nesta circunstância, carregar no sal ou no piripiri, por mais tentador que seja, só resultará na adulteração do cozinhado. Nenhum chef que se preze cometeria essa heresia, isso só pode ser coisa de aprendiz de cozinheiro...
Ninguém pretenderá, estou certo, que os adeptos dos eternos rivais marchem no sábado para Alvalade com o mesmo tipo de paixão de quem vai ao São Carlos assistir a uma ópera. São amores díspares, intensidades emocionais diferentes, incomparáveis. Mas, se não se espera do sportinguista ou do benfiquista a contemplativa emoção do aficionado do belo canto, não pode cair-se no extremo contrário, legitimando um irracional clima bélico.
Um jogo de futebol é apenas importante na dimensão que lhe cabe na escala cósmica das coisas. Olhe-se para a vida e facilmente se conclui que na lista dos amores e dos afectos, nas prioridades do dia a dia e na hierarquia dos valores, o futebol não está no topo. E digo-o com a autoridade de quem cresceu no futebol e vive profissionalmente olhando esse fenómeno com atenção redobrada. Mas mal de mim e da minha sanidade mental se tudo se esgotasse no futebol e nada mais importasse...
Por isso, na véspera do derby, não posso deixar de acompanhar as preocupações do Governo quanto à segurança dos espectadores. E, porque não quero ser mal interpretado, provocando um efeito contrário à pacificação desejada, por aqui me fico."
José Manuel Delgado, in A Bola
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