"Factual, numérica e sobriamente, o Benfica marcou quatro golos ao Lech Poznan e garantiu a passagem aos 1/16 avos de final da Liga Europa. Eis o resumo natural do jogo feito pela equipa de Jorge Jesus sem nada se arriscar acerca de saber o que é qualidade sobre futebol
E este mundo no qual vivemos, hein, em que o novo normal é sacar a arma, apontar e puxar o gatilho que dispara a bala denegridora, que ela vá direta à pessoa que discorda de nós, basta só que pense ou opine de forma diferente, a minha perceção é a que conta, se tens outra estás errado ou errada, pior ainda, és isto e aquilo, não sabes aqueloutro e a tua perceção não conta porque a que vale é a minha.
Respondendo Jorge Jesus a uma jornalista que "também é natural, você não sabe o que e muita qualidade, mas pronto”, não lhe bastou a primeira frase que disse - "não tenho a mesma opinião que você" - para provar que ali havia discórdia, quis falar também da propriedade de quem lhe colocou uma pergunta e teve de usar o que o Benfica, depois, definiu como “a frontalidade conhecida há muitos anos para contra-argumentar a opinião travestida de pergunta”.
Mas o que é perguntar, se não o produto final vindo do observar, do interpretar e do pensar para formular um raciocínio que resulte numa interrogação, como o é questionar os porquês deste Benfica.
O porquê de funcionar melhor quando tem as movimentações na profundidade e conduções de bola de Darwin Núñez; o porquê de Pizzi não ter sempre duas ou três opções de passe a parede sempre perto, para estimular combinações; o porquê de os extremos, Everton e Rafa, com a equipa em ataque continuado, terem sempre ações isoladas perto da linha e raramente em relvas mais interiores; ou o porquê de, quando ultrapassada na primeira linha de pressão feita após perder a bola, tantas vezes a equipa demora a reposicionar os jogadores.
Tudo é visto e revisto contra o Lech Poznan, que a tantos trabalhos obrigara na Polónia e na Luz, com muitas alterações, apenas incomoda com a paciência em buscar o espaço ao centro para encontrar um jogador livre a meio-campo com um passe rasteiro e vertical, vindo da saída com os três centrais, embora sem ter proveito nos últimos 40 metros a rapidez lhe é pouca, como a qualidade para executar, mas pronto, sabemos lá nós, jornalistas de desporto, o que é qualidade no futebol.
Pareceu ser aquela jogada em que o Benfica recuperou a bola, a direita, mais perto da sua área do que da outra, usou o apoio frontal de Darwin para o uruguaio mandar a bola fugir do cerco, para o outro lado, Grimaldo recebeu, acelerou-se com ela ate a cruzar para o retângulo polaco e o avançado a ajeitar para Pizzi, em forca, rematar o que o guarda-redes Bednarek parou, diria, com uma grande parada, que deu a recarga que Darwin bateu por cima da baliza.
Pareceu também ser o salto, cabeceamento e golo de Vertonghen fez, num canto, que foi a única outra chance para o Benfica fazer o que o belga faria, se daí resultou o 1-0 e porque a bola curvada por Pizzi e o gesto do belga tiveram qualidade, mas quem sabe.
Mais seguro do que escrever que, na primeira parte, o ataque posicional e as combinações a um toque do Benfica não tiveram criatividade, velocidade e eficácia por aí além, mesmo com a equipa a controlar o jogo e a superiorizar-se, talvez seja reproduzir números, como se de um exame de matemática se tratasse: o Benfica fez cinco remates, acertou dois na baliza, teve 54% da bola e acertou 88% dos passes contra os respetivos um, 46% e 88% do Lech Poznan.
Das estatísticas extrair-se-á a qualidade, a que no arranque da segunda parte os polacos se atreveram a tentar injetar ma forma como defendiam, montando a pressão mais avançada no campo, já perto dos centrais, para tentar condicionar o Benfica ao erro que nem por isso surgiu pois, uma e outra vez, a bola desbrava caminhos para sair entre Otamendi, Vertonghen e Gabriel.
O que só pode ser sintoma de qualidade, então é isto, porque o argentino, o belga e o brasileiro garantiram saídaslimpas nos 10 minutos em que durou a nova postura do Lech Poznan, ate serem os polacos a errarem: um pontapé mal batido do guarda-redes acabou em Gabriel, que logo lançou a corrida de Darwin para o uruguaio retornar da covid-19 com o 2-0 e o quarto golo feito, esta época, contra os polacos. No minuto seguinte, Chiquinho roubou a bola a meio-campo, passou-a a Pizzi que, pela direita, orientou para dentro e rematou o 3-0.
Os golos apareceram aos 57’ e 58’ e logo Jorge Jesus fez três substituições, havia margem para respirar, poupando, e lá foi o Benfica mantendo o ritmo constante, essa constância nas trocas de bolas que só uns quantos (Waldschmidt, Pedrinho, Rafa) aceleravam em espaços curtos, tentando passes tricotados a três, a beira da área. Quando isso acontecia, os ataques da equipa melhoravam bastante.
Dominou, controlou e ia acalmando as coisas, houve uma bola recuperada por Gabriel a originar uma oportunidade para marcar que Seferovic dirigiu para a bancada e parecia ser isso, mas não, aos 90’ surgiu a compostura e inteligência de Weigl na bola, simulando uma coisa com o corpo e fazendo outra, que foi conduzi-la uns metros até disparar o míssil do 4-0 a entrada da área. Isto só pode ser uma amostra de muita qualidade. E as maiores ameaças do Lech Poznan surgiriam depois, num remate de longe e no canto que veio depois.
Mas pronto, o Benfica marcou quatro golos, sofreu nenhum, rematou mais 13 vezes, teve a bola durante mais tempo e fez mais 151 passes que o Lech Poznan. E assim se faz o resumo do jogo sem se arriscar saber “o que é qualidade sobre futebol”, para evitar que alguém diga que não o sabemos se, por acaso, discordar da interpretação que qualquer pessoa é livre de ter e dar."
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