"O que era verdadeiro ontem, não mais o será hoje e talvez seja diferente amanhã. É com base nestes conceitos e mudanças que o mundo se vai adaptando, com o grau de exigências necessárias para que o possamos acompanhar, sem ser “atropelado”.
No que respeita à temática para a qual me inclinei rubricar este texto, o Futebol vai de forma gradual adaptando-se aos olhos da realidade neste novo mundo, continuando a despertar o interesse do investigador, sem quebrar o entusiasmo do apaixonado.
No âmbito da Observação e Análise do jogo, formam-se equipas verdadeiramente equipadas com tecnologia avançada, para que no imediato possam prestar informação altamente qualificada, por via duma rede interna com o seu líder.
Recordo o início da década de 1980 em que por “apadrinhamento” duma figura notável da minha vida, cuja memória sempre haverei de cultivar, Mestre Sr. José Maria Pedroto, iniciamos o processo em Portugal desta forma de questionar o jogo nos seus diversos elementos. Da sua máxima: “Diz-me como jogas e eu te direi como deves treinar", primeiramente no Vitória S.C. e de imediato no F. C. Porto, pelos dados da observação e análise de jogo e sua desproblematização, ensaiamos notas explicativas para o rendimento do desejado sucesso e que o treino no âmbito dos parâmetros de análise do passe, interceção, desarme, remate, posse de bola, bolas paradas, etc, e respetivas eficácias no ataque e defesa, advindas de quem, onde, como, quando e porquê, se submetiam à respetiva avaliação, reflexão crítica, servindo de base comparativa na evolução de competências.
Da notação manual à combinação do relato oral para dictafone, à utilização do computador para tratamento dos dados e seu registo simultâneo com voz, até ao atual sistema de digitalização com o uso de tecnologia avançada, registe-se este avanço extraordinário que a ciência exige e o resultado aplaude e reconhece.
Outras áreas no âmbito da reorganização dos processos do treino, muito em especial no decorrer desta conjuntura de confinamento, vendo restringidas as equipas pela ausência em treino e competição de alguns dos seus jogadores, por tal condicionados pela resposta a um estímulo marcado pela precariedade, até ao momento de estarem devidamente reintegrados.
Naturalmente que as alterações induzidas do processo de treino, conduzem a um abaixamento de forma desportiva, quer em termos das qualidades físicas, quer ao nível técnico e tático, estratégico, moral e espiritual, que a complexidade da tarefa competitiva e os seus conteúdos de exigência determinam.
Daí a base necessária da inserção duma periodização complementar inerente ao processo antropométrico, morfológico, cárdio funcional e motriz, inseridos num contexto de equipa, com uma ideia de jogo passível duma incorporação do seu modelo competitivo.
Volto à saudosa carga do tempo do meu passado no F. C. Porto, em que com a liderança de Artur Jorge, me vi envolto num sonho tornado realidade, quando para o facto me convidou a inserir a equipa técnica com a responsabilidade de uma área que também foi facto novo em equipas em Portugal, em que um licenciado em Educação Física com opção Futebol e respetivo curso de Treinador, se responsabilizasse numa ligação com o departamento médico, do treino de recuperação de jogadores lesionados até serem capazes de serem inseridos no grupo normal de trabalho e também com as funções de personalização do treino, tendo em conta a máxima disponibilidade para o assumir da competição.
Posso garantir que nunca estudei tanto na minha vida.
Da multiplicidade de lesões, desde as pubalgias aos ligamentos cruzados, às fraturas ósseas, às tendinites, etc, vi-me numa permanente tomada de consciência para a aplicação da teoria estudada na universidade, no âmbito do treino desportivo, da fisiologia, da anatomia, da biomecânica, da medicina desportiva, etc, tendo nesse momento a honrosa oportunidade de a colocar em prática. Um sentimento indescritível, tantas vezes coberto duma ansiosa expetativa, de cada vez que um atleta se integrava e regressava à competição, jamais se recidivar e até ver melhorado o seu desempenho. Daí o reafirmar com o sentido da gratidão de ter tido o F. C. Porto como uma das minhas mais significativas universidades da vida.
Os caminhos da aprendizagem, transformam-se em projeto e mudança. Os processos que estão na base do treino orientado para o sucesso, advêm dum postulado já referenciado nos finais da década de 70, em que o nosso querido Professor Doutor Manuel Sérgio a este propósito dizia: “ não pode haver preparo físico independente do modelo do jogo, adiantando que na preparação física, técnica, tática psicológica, o todo é uma referência constante pela sua complexidade, onde a ciência e a consciência não se podem limitar aos gastos energéticos e neuromusculares . A importância de trazer à planificação do treino não apenas a educação de físicos comprovadamente atléticos ou técnicos estruturalmente eficazes, ou táticos substancialmente competentes, mas a educação do que está para além do jogador que é o homem como pessoa”.
Com base neste contexto e depois da função de Observador e Análise do Jogo e metodólogo de treino físico no F. C. Porto, S. C. Braga e Vitória S.C., fui ao encontro de outras bases que me permitiram experienciar novas fontes para encarar de forma mais eficaz e duradoura a conquista do sucesso. No âmbito da Psicologia Desportiva e Comportamental aplicada ao Futebol, encontrei alguns dos conteúdos que como já referi foram testados com o êxito devidamente reconhecidos e daí me fazerem despertar imagens e memórias e também razões para olhar para o futuro com renovada esperança.
Contudo e embora saibamos bem que o conhecimento científico no Futebol seja cada vez menos escasso e também cada vez mais consistente, quaisquer das metodologias inovadoras ainda se tornam um pouco inoportunas, nomeadamente para aqueles que julgam que no futebol tudo já está inventado."
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